CRISE NO CAMPO III: Presidente da Cooperativa C. Vale preocupado com o câmbio

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As atividades ligadas ao agronegócio estão se tornando inviáveis no País. O momento é tão preocupante que está sendo apontado como uma das mais graves crises do agronegócio dos últimos tempos. A atual política cambial é apontada como a principal vilã para a falência do setor. Esse cenário ainda está aliado à estiagem, que tem afetado as lavouras nos últimos três anos. "Se continuarmos com essa linha (política econômica) não tem como continuar sobrevivendo. Vai haver uma paralisia generalizada no agronegócio", afirma Alfredo Lang, presidente da Cooperativa C.Vale.

Revolta - O problema é que os agricultores têm que lidar com os baixos preços recebidos ao mesmo tempo em que os custos de produção não caem na mesma proporção, apesar de também serem atrelados ao dólar. "Na época do plantio o dólar estava mais alto do que o atual patamar. A queda dos preços dos insumos também é mais lenta", observa Lang. Segundo ele, o dólar cotado a R$ 3 já seria um bom valor para os agricultores. No entanto, se a cotação estivesse na casa dos R$ 2,70, as contas do agronegócio já poderiam ser equilibradas. "Com esse valor não haveria essa crise que estamos vendo", diz. Segundo ele, a atual situação também está "revoltando" os agricultores. "Os produtores estão entrando em desespero porque estão sem dinheiro e sem compradores. Não podemos mais dimensionar a reação que eles podem ter. Certamente eles irão agir, só ainda não sabemos de que forma, mas eles estão sendo levados por essa situação crítica", avalia. A alternativa sugerida para começar a amenizar a crise é a redução das taxas de juros.

Faturamento - Mesmo recebendo uma produção maior, o faturamento da cooperativa caiu 11,72% no ano passado, comparando com 2004. Por isso, ele lembra que o governo federal precisa dar mais atenção ao agronegócio. O setor é responsável por 37% dos empregos e por 40% das exportações do País. O assunto foi discutido no início desta semana entre lideranças paranaenses e o governo federal. No foco estão o alongamento das dívidas e custeio e a desoneração da carga tributária de alguns setores. A atual crise que o setor avícola vem amargando nos últimos meses não deve trazer prejuízos apenas para esse setor. O presidente da Cooperativa C.Vale, Alfredo Lang, explica que esse ""mau momento"" irá trazer conseqüências negativas para toda a cadeia do agronegócio. Além dos prejuízos acarretados pela valorização excessiva do real, a gripe aviária fez cair em 30% o consumo mundial do produto. O Paraná tem a maior criação de aves de corte do País.

Reflexos - A redução do consumo força os avicultores a criar menos aves. Com um plantel menor, vai sobrar no mercado mais soja e milho (commodities utilizadas na alimentação dos animais). "Isso vai trazer sérias conseqüências ao mercado porque o excedente de produção vai derrubar ainda mais os preços da soja e do milho", avalia Lang. Ele acrescenta que essa crise vai fazer baixar os preços dos alimentos no varejo. "A conta vai ficar com quem está produzindo os alimentos e quem não tiver fôlego vai sair da atividade", diz o presidente da C.Vale. Ele acrescenta que a crise no campo vai fazer aumentar o desemprego e, conseqüentemente, a criminalidade. "Todos os setores do agronegócio já estão fazendo ajustes em seu quadro de funcionários. Ninguém quer falar nada porque toda essa situação é muito ruim, mas a situação está nos obrigando a seguir esse caminho", salienta. (Folha de Londrina)

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