CRISE NO CAMPO: Pecuária leiteira à beira da falência

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A elevação de 10% nos custos dos insumos e a queda de 15% nos preços pagos aos produtores de leite de janeiro a agosto deste ano geram um quadro de falência no setor. A discussão sobre a crise no segmento leiteiro reuniu mais de 300 lideranças de produtores e cooperativas na sede da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), em Brasília. Participaram dos debates a Comissão Nacional de Pecuária de Leite da CNA, a Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), e a Confederação Brasileira de Cooperativas de Laticínios (CBCL). As entidades cobraram uma resposta do governo federal ao pedido já encaminhado ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), de adoção de um mecanismo de sustentação de preços para o leite, nos moldes já existentes para outros produtos, como soja, arroz e milho, entre outros. Os representantes do setor lácteo entregaram um documento que faz uma radiografia da crise pela qual passa a produção de leite ao secretário de Defesa Agropecuária do Ministério da Agricultura (Mapa) Gabriel Alves Maciel.

Em queda - O texto cita a queda de 50% na expectativa das exportações, em decorrência da valorização do real e propõe algumas medidas para barrar a crise. Entre elas está o lançamento do Prêmio de Risco para Aquisição de Produto Agropecuário Oriundo de Contrato Privado de Opção de Venda (Prop-Leite) já utilizado para outros produtos. Os produtores também querem maior rigor na fiscalização das fraudes nos produtos lácteos. A última medida trata do apoio às decisões do Departamento de Defesa Comercial do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) que visam prorrogar as tarifas antidumping sobre o leite em pó importado da Nova Zelândia e da União Européia. Ao receber o documento, Maciel admitiu que as políticas do Mapa estão aquém das demandas dos produtores.

Ineficaz - O presidente da Comissão Nacional de Pecuária e Leite da CNA, Rodrigo Alvim, afirmou que o Mapa é ineficaz no combate à fraude dos produtos lácteos. Ele explicou que seis entidades destinaram verbas para o Mapa rastrear a composição dos lácteos. O ministério constatou que, das 213 indústrias examinadas, 81 manipulavam produtos.

Consumo x produção - O problema que mais afeta o setor é o preço pago ao produtor. A afirmação é da engenheira agrônoma do departamento técnico-econômico da Federação da Agricultura do Estado do Paraná (Faep), Maria Silvia Cavichia Digiovani. Ela lembrou que em junho de 2005, o preço do litro do leite pago ao produtor era R$ 0,52. Em julho do mesmo ano caiu para R$ 0,51 e em dezembro para R$ 0,39. Em fevereiro de 2006 estava em R$ 0,38, em março R$ 0,39, em abril R$ 0,40, em maio R$ 0,42, em junho R$ 0,44, em julho R$ 0,45 e em agosto R$ 0,45. Segundo Maria Silvia, o consumo não está acompanhando o crescimento da produção. O consumo cresce 1% ao ano e a produção 6%. Com o dólar baixo, as exportações caíram, o que dificultou a competitividade do produto no mercado interno. Maria Silvia acredita que uma saída para o setor seria uma grande campanha de marketing para o produto. Hoje o Brasil produz 25 bilhões de litros de leite, sendo 10% deste total no Paraná. O Estado tem cerca de 100 mil produtores no setor. Cada vaca produz 1.100 litros de leite por ano no Brasil. O Paraná é o terceiro produtor nacional e só perde para Minas Gerais e Goiás. O Brasil é o sexto produtor mundial. O presidente do Sindicato da Indústria de Laticínios e Produtos Derivados do Estado do Paraná (Sindileite), Wilson Thiesen, disse que a valorização do real inviabiliza as exportações. Segundo ele, além dos insumos, subiram custos como energia elétrica, diesel e a carga tributária. Thiesen ressaltou que muitos supermercados usam os preços do leite como chamariz para os consumidores, o que faz o preço pago ao produtor reduzir ainda mais. (Folha de Londrina)

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