ECONOMIA: Teto da meta de inflação está a um fio de ser superado, após oito anos
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Com a expectativa de maior dinamismo da atividade econômica por causa do fim do ano e a alta de 0,52% no Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de novembro conhecida nesta quinta-feira (08/12), começam a ficar mais evidentes os riscos de a inflação oficial do país superar o teto da meta em 2011.
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Oscilações - A última vez que isso ocorreu foi em 2003, quando o limite máximo para o IPCA estipulado pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) era igual ao atual, de 6,5%, e o indicador encerrou o período em 9,3%. Nos dois anos anteriores, marcados por graves crises econômicas, o Banco Central (BC) também perdera a luta para estabilizar os preços, e o teto da inflação do governo foi rompido. Desde 2005, o centro da meta perseguido pela autoridade monetária é 4,5%, alvo que será mantido até 2013. O regime de metas de inflação, adotado em 1999, admite oscilações de dois pontos percentuais acima ou abaixo do centro.
Batalha perdida - Este ano, com alta de 6,64% nos doze meses encerrados em novembro, economistas calculam que caso o IPCA de dezembro superar 0,50%, a autoridade monetária terá perdido mais uma batalha para a inflação. “Não é impossível [fechar em 0,50%], mas é pouco provável que isso aconteça”, diz o economista Flávio Serrano, do BES Investimento.
Fatores sazonais - Ele argumenta que o comportamento dos preços em dezembro e janeiro tende a crescer por causa de fatores sazonais – em 2010, o IPCA do último mês do ano fechou em 0,63%. As principais pressões, diz, virão do grupo serviços, que passou de 0,41% para 0,59% entre outubro e novembro. O resultado ficou acima também do registrado em novembro de 2010, quando a alta foi de 0,46%.
Mercado de trabalho - “Nossa inflação está muito ligada ao mercado de trabalho. Por mais que alguns produtos desacelerem, o ritmo de aumento dos serviços está se intensificando. O Brasil depende mais da dinâmica de serviços que da indústria”, afirma Serrano.
Serviços - O economista Daniel Lima, da Rosenberg & Associados, concorda: “A parte de serviços ainda está muito pressionada e vai demorar muito para começar a desinflar”. Lima conta com elevação de 0,50% no IPCA de dezembro, o que trará a taxa em doze meses para 6,5%, mas não descarta surpresas negativas para a inflação. "Se o indicador subir apenas 0,01 ponto percentual acima da minha projeção, o teto da meta já é estourado", ressalta.
Transportes - Ao lado dos serviços, avalia Flávio Combat, economista-chefe da Concórdia Corretora, o grupo transportes deve voltar a subir após ter desacelerado em novembro, como reflexo da entressafra do etanol. Os preços desse combustível já estão aumentando e puxarão a reboque o custo da gasolina, que contém álcool anidro. Em novembro, os transportes registraram estabilidade de 0,01%. Há ainda o alerta para o aumento de preço das passagens aéreas devido ao período de férias, outro fator para comprometer a meta inflacionária do governo, diz Combat.
Alimentos - Segundo ele, os alimentos também preocupam e podem determinar o estouro do teto do IPCA em 2011, embora ele espere que a inflação desacelere para 0,48% em dezembro. “Os riscos existem sempre. Se tivermos uma taxa de alimentos mais pressionada, é óbvio que a inflação vai romper o teto da meta”.
Vetor principal - Na leitura atual, o grupo alimentação e bebidas foi o principal vetor de aceleração do IPCA ao subir de 0,56% para 1,08%, puxado pelas carnes, que avançaram de 0,90% para 2,63%. “O grupo alimentação deve continuar em patamar elevado em dezembro, mas inferior a esses 1,08% porque deve haver uma desaceleração em carnes”, projeta Combat. (Valor Econômico)