ELEIÇÕES 2006: Jornalista diz que 2007 será um ano difícil para o próximo presidente
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Para o jornalista e apresentador da Rede Globo, Alexandre Garcia, que esteve na última terça-feira (12/09) em Maringá, participando de um Ciclo de Palestras, promovido pela rádio CBN, no Teatro Marista, com apoio da Cocamar, o próximo ano (2007) será um ano especialmente difícil para o próximo presidente da República. O País, segundo ele, será impactado pelos efeitos de um crescimento menor da economia norte-americana, lembrando que no próximo ano a própria economia mundial também deverá prosperar menos. Se Lula for reeleito, prevê Garcia, o agravante é que sua bancada não contará com mais de 50 ou 60 parlamentares, sendo impossível governar sem uma coalizão com partidos de oposição. Além disso, como conseqüência do período de crise da agricultura, o País vai colher menos alimentos no ano que vem, o que poderá encarecer a cesta básica, justamente um dos trunfos do atual governo. A palestra reuniu cerca de mil pessoas. A Cocamar foi uma das patrocinadoras do evento.
Passos de tartaruga - Falando em crescimento, Garcia lembrou que na soma dos dois primeiros anos do atual governo, o País avançou apenas 4,9%, mais os 2,8% de 2005. Para este ano, a previsão não vai muito além de 3%. “Quando Lula chegou ao poder, ele tinha tudo para entusiasmar as massas e embalar um ritmo forte de crescimento. Contava até com um voto de confiança da imprensa. Mas, em vez disso, ele preferiu dizer que seu governo, propriamente, só começaria mesmo a partir do segundo ano. Agora, diz que vai começar no segundo mandato”. Garcia insiste que “só Lula não viu essa oportunidade” e aproveitou para lembrar que no período repressivo do governo Médici, no auge da ditadura militar, a economia brasileira teve um crescimento médio de 11,9% ao ano, época em que o mundo não crescia mais de 5%. “Hoje, somos o penúltimo no ranking dos países emergentes”, acrescentou.
Cidadania - Ele chamou atenção para a importância das eleições deste ano, enfatizando que sobre os ombros dos próximos representantes do povo no Congresso Nacional é que recairá a responsabilidade de promover as tão aguardadas reformas política, previdenciária e tributária, por exemplo. No entanto, após tantos escândalos envolvendo gente do governo, senadores e deputados, Alexandre Garcia acha que o eleitor terá uma certa dificuldade em escolher seus candidatos, prevendo um elevado índice de abstenções – votos nulos e brancos. Recordou ele que quando Fernando Henrique Cardoso foi reeleito em 1999 com 35 milhões de votos, a abstenção foi elevada e atingiu 38 milhões. Segundo ele, é durante uma eleição que o tal “Zé Mané” passa a ser tão importante quanto qualquer outro brasileiro. “Seu voto é igual ao de Antonio Ermírio de Moraes, por exemplo. Mesmo assim, por falta de cidadania, muitos acabam vendendo seu voto”. A cidadania que, segundo ele, está em falta. O brasileiro, argumentou, costuma desfraldar a Bandeira Nacional apenas durante a Copa do Mundo, esquecendo-se, por exemplo, do 7 de Setembro. “Na minha opinião, a Bandeira deveria ser vista, em todas as janelas, de 7 de setembro a 1° de outubro”.
Lição de casa - Garcia citou um estudo feito por especialistas internacionais sobre os países que, no futuro, poderão estar no topo, entre as superpotências. Além dos Estados Unidos, aparecem China, Rússia, Índia e Brasil. No entanto, o Brasil só chegará lá se fizer a lição de casa – resolver, por exemplo, o problema das estradas, como de resto a infraestrutura, além de acabar com o excesso de burocracia, reformar as instituições e ter uma poupança interna para não depender dos investimentos dos outros. “A economia brasileira vai precisar, principalmente, se abrir para o mundo”, disse o jornalista, enfatizando que enquanto a China tem 55% de sua economia aberta para o mundo, a do Brasil nem chega a 20%.
Educação - Garcia ressalta que o País não poderá, também, deixar de investir em educação. Buscou o exemplo da Coréia que, até 1950, era um país arrasado e com 45% de analfabetos. Hoje, é um dos tigres asiáticos, com altas taxas de crescimento anual e dona de uma indústria poderosa de navios, veículos e vários outros produtos que conquistam o mundo. Outro exemplo é o Japão, arquipélago também destruído após a Segunda Guerra Mundial. A saída foi investir em educação e saneamento. O mesmo ocorreu com outros países, como a Alemanha, devastada por duas guerras mundiais. Há 60 anos, um alemão não tinha mais que 60 dólares. Hoje, a Alemanha está entre as três superpotências do planeta. A própria Argentina promoveu uma revolução na educação nas últimas décadas e obtém taxas elevadas de crescimento. O cidadão argentino adquiriu a cultura, por exemplo, de ler jornal todo dia.
Presidência - Para Alexandre Garcia, Lula mentiu ao dizer que não sabia de nada sobre as falcatruas promovidas por seus ministros e assessores diretos. No mínimo, garante ele, a ABIN – Agência Brasileira de Inteligência – teria a obrigação de informar tudo ao presidente. “A ABIN sabe tudo o que se passa em todos os setores do Palácio, até mesmo nos banheiros. Afinal, ela existe para isso”, frisou. Sobre o afastamento do presidente, cogitado em 2005, quando o governo era acossado por uma série de escândalos, Garcia disse ter perguntado na ocasião ao senador Álvaro Dias, do Paraná, se a oposição não pensava em pedir seu impeachment. A resposta foi de que Lula se enfraqueceria a tal ponto que, possivelmente, nem se candidatasse à reeleição. “A oposição deixou passar a sua grande chance”, comentou.
Impunidade - Sobre os escândalos no Congresso, Garcia lembra a impunidade. Afinal, segundo ele, dos 18 parlamentares envolvidos no Mensalão, apenas 3 foram cassados. O próprio senador Ney Suassuna teria afirmado que 90% dos parlamentares “recebem uma beirada”. Fazendo as contas, vão sobram só uns 60 “justos”. O jornalista disse que, com a estabilização da economia, o brasileiro passou a se preocupar menos com a inflação e mais com a ética. “O empresário mudou, o consumidor passou a ser mais exigente, mas o contribuinte continua o mesmo”. Garcia disse que “O Estado é incompetente em tudo, mas, apesar disso, seu tamanho é cada vez maior”.