EXPEDIÇÃO SAFRA V: O clima não foi o único culpado
- Artigos em destaque na home: Nenhum
Sem El Niño ou La Niña, o clima foi normal no verão de 2008. Mas a neutralidade climática, que poderia favorecer a safra de grãos, não beneficiou boa parte dos agricultores. O Paraná foi o estado que mais sofreu com a estiagem do final do ano passado. O que atrapalhou foi a má distribuição das precipitações, avalia o meteorologista Paulo Etchichuri, do Instituto Somar. "As chuvas acumularam volumes normais ao longo da safra de verão. Considerando o ciclo como um todo, não houve escassez. Ainda assim, o impacto na lavoura foi grande", relata. O que potencializou as perdas foi a opção pela soja precoce, que aumenta o risco climático da safra, explica Etchichuri.
Abreviando o ciclo - "Pensando na safrinha de milho, estamos abreviando cada vez mais o ciclo da soja, e isso diminui o potencial de recuperação da lavoura", diz Enoir Pellizzaro, técnico da C. Vale, de Palotina. A cooperativa atua na região Oeste do estado, uma das mais prejudicadas pela estiagem de 2008, justamente por conta da preferência por variedades precoces. No início de outubro, quando a equipe da Expedição Safra passou pelo município, 95% dos 143,5 mil hectares que foram cultivados com soja pelos cooperados da C.Vale nesta temporada já haviam sido semeados. Normalmente, o plantio da oleaginosa se estende até o início de novembro na região. O resultado da antecipação do plantio de variedades precoces foi uma quebra de 55% na safra de soja da cooperativa.
Estiagem - O risco de estiagem no verão é sempre presente no Paraná e, por isso, o agricultor precisa planejar muito bem a safra, escalonar o plantio e caprichar no manejo da lavoura, diz Etchichuri. "O desafio é reduzir o risco e melhorar a produção", afirma. "Não tem como mudar o clima, mas há como combater as irregularidades climáticas", completa o meteorologista.
Exemplo - O caso de José Armando Gafuri é prova disso. Ele conseguiu minimizar as perdas com a estiagem planejando a safra. Semeou na janela ideal de plantio, conforme o zoneamento e atento às previsões climáticas. Enquanto muitos produtores paranaenses contabilizam os prejuízos, ele comemora a boa safra de soja. Com a colheita concluída, o rendimento médio da lavoura foi de pouco mais de 3 mil quilos por hectare. Detalhe: a propriedade de Gafuri fica em de Toledo, também no Oeste, região que teve as maiores perdas. Nos seus 50 hectares, faz apenas duas safras por ano: soja no verão e trigo no inverno. "Plantei só soja de ciclo longo. Não penso na safrinha, penso na safra", declara. Ao menos neste ano, a estratégia foi acertada. "Tive quebra de 15%, mas colhi quase mil quilos por hectare a mais que os meus vizinhos", conta.
Recomendação - Diluir os riscos adaptando a tecnologia empregada na lavoura às condições climáticas, como fez Gafuri, é a recomendação do meteorologista do Somar. De modo geral, é possível antecipar-se ao comportamento do clima, pois os sistemas que levam chuvas ao Sudeste e Centro-Oeste do país são os mesmos que atuam no Sul, explica Etchichuri. "Quando a estação chuvosa atrasa em Mato Grosso, por exemplo, as chuvas de primavera se prolongam no Paraná. E quando as chuvas de verão chegam mais cedo ao Centro-Oeste, aumeta o risco de estiagem no início do ciclo no Sul", diz.
Safrinha - A dica vale também para a safrinha. "Estamos sob a influência de um La Niña de fraca intensidade, e La Niña é sinônimo de preocupação para o Sul do país", afirma. O mês de março registrou chuvas abaixo da média no Paraná. "A boa notícia é que as precipitações retornam às regiões produtoras nesta semana", diz Etchichuri. O trimestre abril-junho deve ter chuvas dentro a ligeiramente abaixo da média. O meteorologista adianta que o Paraná vai ter grande alternância de temperatura neste mês. A primeira onda de frio tende a chegar na primeira quinzena de junho. "Quem plantou dentro da janela não deve ter grandes preocupações", conclui Etchichuri.(Caminhos do Campo/Gazeta do Povo)