Futuro do álcool é hidrogênio, afirma ex-presidente da Petrobrás

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O fundador da Embraer e ex-presidente da Petrobrás, Ozires Silva, disse em Maringá que o motor a combustão está com os dias contados e que, em 20 anos, será substituído pelo motor elétrico. “Não tenho dúvidas de que haverá uma mudança de paradigma na propulsão mecânica mundial e a entrada do carro elétrico no mercado poderá ser avassalador para o mercado alcooleiro”, vaticinou. O ex-ministro esteve em Maringá a convite da Alcopar, onde falou sobre Tecnologia e Desenvolvimento para produtores de álcool e açúcar do Paraná. Segundo ele, o setor alcooleiro nacional precisa se preparar para as futuras mudanças porque o motor elétrico já é uma realidade, sendo alvo de testes em vários países. O governo norte-americano, por exemplo, aprovou recentemente investimentos de US$ 20 bilhões para projetos de pesquisa com motores elétricos. Na França, um decreto governamental orienta as montadoras a desenvolverem esta nova tecnologia. “Quando o motor elétrico desaparecer do mercado como ficará a tecnologia do álcool?” indaga.

Hidrogênio - Para Ozires Silva, a hipótese mais provável é que a eletricidade que moverá os motores do futuro venha do hidrogênio, por meio da tecnologia da célula a combustível. Embora seja o elemento mais abundante no planeta, o maior problema dos cientistas é como obtê-lo, já que o hidrogênio não aparece sozinho na natureza. “Como o etanol tem grande concentração deste elemento, eu diria que o futuro do álcool brasileiro é fornecer hidrogênio para gerar eletricidade”, alertou. Neste contexto, a aplicabilidade do álcool, segundo o ex- ministro, não seria como combustível líquido, “mas na geração de energia elétrica, que é mais abrangente”.   Silva ressaltou que a busca por fontes de energia limpa tende a se acirrar porque o planeta não está mais suportando as descargas de dióxido de carbono emitidas pela queima de petróleo na atmosfera. Hoje, o mundo queima 85 milhões de barris de petróleo por dia  e joga na atmosfera 10 milhões de toneladas de gases poluentes a cada 24 horas.

Razões ambientais - Na avaliação do ex-presidente da Petrobrás, o petróleo vai acabar por força de razões ambientais, não porque esteja escasso. É consenso nas comunidades científicas que ou se acaba com o uso do petróleo, ou o petróleo acaba com a vida no planeta. É diante deste cenário que o motor elétrico tende a virar realidade, já que tem rendimento superior ao motor a combustão e não emite poluentes. Na visão de Ozires Silva, o Brasil pode até perder a corrida internacional da tecnologia da célula a combustível, já que outros países estão investindo pesado em pesquisas. Porém, o País não pode perder a oportunidade de ser fornecedor do combustível que moverá os motores elétricos. “Por isso, é preciso planejar o futuro agora”, adverte. Veja as resposta às perguntas formuladas pela jornalista da Flamma Comunicação, de Maringá, que o entrevistou.
 
- Quais perspectivas o sr. vê para o álcool combustível, nos próximos anos?
Ozíres Silva –  A solução do álcool representou uma quebra de paradigma tecnológico extremamente importante no passado. O mundo está se desenvolvendo com uma rapidez impressionante. Novas alternativas tecnológicas devem surgir. Acredito fortemente que esse motor que usamos hoje, de combustão interna, vai desaparecer. Então, nestas circunstâncias, precisamos pensar alternativas para evitar que um setor, que hoje gera uma quantidade impressionante de empregos e oportunidades no Brasil, se torne obsoleto porque o motor que queima álcool vai desaparecer.
 

- O Sr. é membro do Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia. Como o governo enxerga a questão do futuro do álcool?

Ozíres Silva – Eu defendo a tese que quem sabe onde dói o calo é o setor alcooleiro. E não concordo com essa postura do brasileiro de que o governo decida por nós. A sociedade deve colocar o governo a seu serviço. As idéias têm que sair do setor, por quem lida no setor sabe mais que qualquer governo. Cabe a nós levar as autoridades a coordenar esses esforços em nível nacional. Então eu diria que as idéias têm que nascer no setor e os líderes pressionarem as autoridades para que as coisas aconteçam da melhor forma possível.  

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