GRIPE AVIÁRIA: Butantã terá nova cepa do vírus para testes
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O Instituto Butantã vai receber uma nova cepa do vírus da gripe aviária, matéria-prima para desenvolvimento de uma vacina. O remetente é o Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos. O material foi enviado para cerca de dez fabricantes internacionais - o Brasil é o único da América Latina. A idéia é produzir 100 mil doses da vacina até o fim de 2008. O Butantã poderá ainda contar com o investimento de US$ 2 milhões do governo americano para desenvolver a vacina. O dinheiro seria usado na produção e na compra de equipamentos. "Temos de preparar um documento até 4 de fevereiro mostrando que somos capazes de produzir até o fim do ano uma quantidade suficiente de vacinas estáveis e potentes em animais", explica Isaías Raw, diretor da Divisão de Desenvolvimento Tecnológico do Instituto Butantã. "Tiramos isso de letra, temos a infra-estrutura." A nova amostra foi feita baseada no subtipo do vírus H5N1 (da gripe aviária) que surgiu na Indonésia, justamente o único país com casos de infecção em humanos neste ano (um caso registrado até o dia 9) e o campeão em mortes em 2006 (45 no total), de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS).
Dois tipos de vírus - Análises feitas com vários subtipos do H5N1 que contaminaram animais e humanos mostraram que a maioria deles em circulação nos últimos quatro anos ficou dividida em dois principais grupos. Os subtipos do grupo 1, que circularam no Camboja, na Tailândia e principalmente no Vietnã, foram responsáveis pelas infecções em humanos nesses países em 2004 e 2005. Os vírus do grupo 2 circularam em humanos e pássaros na China e na Indonésia em 2003 e 2004. Em 2005 e 2006, disseminaram-se pelo Oriente Médio, Europa e África. A cepa do Vietnã (grupo 1), que foi encaminhada ao Brasil em janeiro de 2006 e distribuída mundialmente pelo National Institute for Biological Standards and Technology, laboratório britânico sancionado pela OMS, se mostrou segura, mas só eficaz em doses muito altas. Em abril do ano passado, o Instituto Nacional de Alergias e Doenças Infecciosas dos Estados Unidos foi o primeiro a concluir que ela imunizava só com com doses seis vezes maiores do que o esperado. Uma vacina de gripe comum tem 15 microgramas. A doses com a cepa do Vietnã que atingiram um nível de imunização aceito pela OMS foram de 90 microgramas - e são necessárias duas doses para imunizar. "Em termos econômicos, seria praticamente inviável", conta Raw.
Estudo - Em maio, no entanto, estudo publicado na revista britânica Lancet mostrou que doses de 30 microgramas da vacina da gripe aviária foram eficazes, mas com o acréscimo de adjuvante (substância usada para turbinar o efeito de vacinas). O adjuvante usado foi o hidróxido de alumínio. O Butantã desenvolveu outro tipo de substância (monosfosforil de lipídio A), que age no organismo - o alumínio age na vacina - que deverá ser usado na fabricação da vacina com a nova cepa. Mas a vacina feita com o grupo 1 pode ser usada numa eventual pandemia. "O que importa é que ela age contra o H5N1", explica Jessica Presa, gerente médica da Sanofi-Pasteur no Brasil, o maior fabricante de vacinas contra gripe comum do mundo - são cerca de 160 milhões de doses por ano, que representam 40% da produção global. "E não haveria tempo hábil para fabricar uma vacina do início numa pandemia."
Estoque estratégico - A Sanofi começou os testes com a nova cepa há cerca de um mês e já tem encomenda dos Estados Unidos. França, Itália e Austrália têm contratos com o laboratório para ter um estoque da vacina feita com cepa do grupo 1 caso ocorra uma pandemia. O Butantã decidiu não descongelar a cepa antiga, já que estudos mostraram que só com doses altas ele imunizaria, mas também não a descartou. "Vamos priorizar a nova matéria-prima, mas não significa que não podemos precisar da antiga. Esse vírus muda muito", conta Raw. No ano passado, o instituto construiu um laboratório experimental de 400 metros quadrados em 120 dias especialmente para fabricar a vacina da gripe do frango com a cepa do grupo 1. Além do laboratório, o Butantã vai inaugurar em março sua fábrica de vacinas para gripe comum. Com 6 mil metros quadrados e equipamentos no valor total de R$ 34 milhões, ela tem capacidade de produzir 20 milhões de doses de vacinas por ano. (Agência Estado)