INFRA-ESTRUTURA: Brasil precisa investir R$ 7,5 bilhões em armazéns

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A safra brasileira de cereais e leguminosas será de 118,525 milhões de toneladas neste ano, 5,29% a mais que as 112,574 milhões de toneladas registradas no ano passado, segundo estimativas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Pelos cálculos da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), cerca de 25% desta colheita não encontrarão no mercado áreas de armazenagem por causa do déficit de silos e terminais para produtos agrícolas no País. Isso ocorrerá apesar da importância estratégica do setor, que representa 34% do Produto Interno Bruto (PIB) e cerca de 40% da pauta de exportações.

Investimento - Incrementar em 30 milhões de toneladas a capacidade de armazenagem demandaria 2.500 armazéns de 12 mil toneladas cada um. Considerando custo médio de R$ 200 por tonelada instalada, o que representa R$ 3 milhões por unidade armazenadora, o Brasil precisa investir R$ 7,5 bilhões para comportar a safra deste ano. A superintendente interina da Conab, Regina Reis, informa que a companhia não investe mais na construção de terminais, restringido sua operação às unidades existentes. Desta forma, a iniciativa privada precisaria desembolsar o valor por sua conta e risco.

Desequilíbrio - A Conab registra capacidade de armazenamento no Brasil em 114,44 milhões de toneladas, das quais 87,13 milhões são granéis e 27,3 milhões de cargas embaladas. Regina Reis explica que o déficit será da ordem de 25% porque algumas regiões terão ociosidade de armazenagem, enquanto outras terão carência de áreas. A companhia administra atualmente 95 armazéns no Brasil. "Existem regiões que ainda não estão preparadas para armazenar a produção. É o caso do Mato Grosso, em que a safra de milho não está sendo atendida pelos armazéns da região", explica.

Cooperativas - Os estados com maior capacidade são Paraná e Rio Grande do Sul, com respectivamente 20,27 milhões de toneladas e 20,03 milhões de toneladas. São os dois maiores produtores brasileiros de grãos. Em terceiro lugar está o estado do Mato Grosso, maior produtor de soja, com capacidade para 14,79 milhões de toneladas. O estado do Paraná foi um dos que mais cresceram o espaço para armazenagem nos últimos anos. Dados do Conab mostram que a capacidade do estado cresceu de 17,7 milhões de toneladas em 2001 para 23,2 milhões de toneladas em 2005, 31,07% a mais. O aumento ocorreu porque os pequenos e médios produtores do estado, que representam maior parte da colheita, investiram cerca de R$ 1 bilhão nos últimos cinco anos. Segundo o gerente para economia da Organização das Cooperativas do Paraná (Ocepar), Flávio Turra, o setor de armazenagem recebeu o maior volume de recursos das cooperativas, que representam 65% da safra de 12 milhões de toneladas de soja no estado, 50% das 14 milhões de toneladas de milho e 70% da produção de 3 milhões de toneladas de trigo. Nos próximos dois anos, serão investidos mais R$ 100 milhões em capacidade.

Transgênicos -  "Os investimentos permitiram uma situação confortável de armazenamento no Paraná, apesar de ainda haver certo estrangulamento no início da safra", explica Turra. Os investimentos previstos por produtores da região, nos próximos dois anos, serão voltados para adequação dos armazéns à movimentação de soja transgênica, de forma a segregá-la da soja convencional. Para isso, precisarão ser construídos silos específicos e afastados para os produtos, evitando qualquer contato entre eles. Turra explica que a soja transgênica representou no ano passado 30% do total exportado da commodity, o equivalente a 3,6 milhões de toneladas. Na próxima safra, a soja transgênica representará mais de 50% das exportações do produto no estado, o que demandará aumento do número de silos. "Não pode haver contato entre os produtos. A soja transgênica ainda tem restrição em alguns mercados e isso poderia prejudicar a soja convencional. Existe também a possibilidade, em futuro breve, de o milho transgênico começar a ser aceito em alguns mercados, oq ue exigirá mais armazéns", diz Turra. Investir neste tipo de terminal apenas em portos, o que ocorrerá no Porto de Paranaguá, não será suficiente, lembra, porque o produto precisa ser segregado ainda no campo.

Financiamento - O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) opera uma linha de financiamento criado pelo Governo federal para incentivar o mercado de armazenagem e irrigação. Os recursos liberados não são identificados por tipo de projeto - irrigação ou armazenagem -, mas dão a dimensão da redução de investimentos da agroindústria em capacidade instalada de armazenamento. De janeiro a junho deste ano, foram liberados R$ 106,6 milhões, frente a R$ 255 milhões em igual período do ano passado, queda de 58,19%. Outro setor que investiu pesado para contornar os riscos de falta de infra-estrutura de armazenagem foi a indústria sucroalcooleira. Segundo o secretário-geral da União da Agroindústria Canavieira de São Paulo (Unica), Fernando Ribeiro, o setor comercializa em 12 meses o que colhe em 6 meses, o que dá dimensão da necessidade de armazenagem dos produtores e processadores locais.
 
Estimativa - Segundo levantamento do Centro de Estudos em Logística (CEL) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a armazenagem demanda gastos de aproximadamente R$ 11,2 bilhões no Brasil, o que representa 0,06% do Produto Interno Bruto (PIB) do País. O cálculo foi baseado na estimativa de estoque imobilizado registrado pelo IBGE, de R$ 224,6 bilhões em 2004. Os valores incluem os gastos não apenas no setor de agronegócio, mas também os das grandes indústrias. (Jornal do Comércio)

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