INSUMOS I: Cenário menos sombrio para venda de adubo

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Melhoraram, de dezembro para cá, as perspectivas para a demanda de fertilizantes no Brasil em 2009, e as primeiras projeções sobre as vendas em janeiro colaboraram para isso. Os preços mais baixos favorecem as compras pelos agricultores, mas os reflexos negativos da forte desaceleração no fim de 2008 tendem a prejudicar o desempenho das empresas que atuam no segmento no país ao longo de todo o atual exercício, conforme analistas e executivos.

Anda - A Associação Nacional para Difusão de Adubos (Anda) deverá divulgar nesta quinta-feira (19/02) sua estimativa para as entregas das misturadoras (companhias que fabricam o produto final) às revendas no país no mês passado, mas informações preliminares de fontes do segmento sinalizam que o volume ultrapassou 1,2 milhão de toneladas, ante 977 mil em dezembro e 1,9 milhão em janeiro de 2008.

Comparação - Como a comparação com janeiro do ano passado é "ingrata" pelo incentivo às compras que a curva de elevação de preços de então provocava, as empresas estão mais focadas na recuperação em relação ao fim do ano passado. As vendas desabaram a partir de outubro, e as entregas somaram 22,4 milhões de toneladas em 2008, 8,9% menos que em 2007. Isso depois que os recordes de vendas e preços do primeiro semestre geraram previsões de que poderia haver uma alta anual superior a 10%.

Estoques - Com a paradeira que se seguiu ao aprofundamento da crise financeira global e o decorrente estrangulamento do crédito no mercado brasileiro, a indústria como um todo virou o ano com estoques de passagem de 6 milhões de toneladas, nível duas vezes maior que a média dos últimos 15 anos. Não bastasse o gordo volume acumulado, grande parte nas mãos das misturadoras, os estoques perderam valor com a desvalorização internacional, em razão da crise, de parte dos nutrientes que compõem os fertilizantes, notadamente dos nitrogenados, que acompanham as oscilações do petróleo.

Misturadoras - Entre as misturadoras estão subsidiárias de multinacionais como Yara (norueguesa), Mosaic e Bunge (americanas), para as quais a valorização do dólar também provocou perdas cambiais que ajudam a compor um cenário complexo para os negócios. A Yara Brasil não esconde a preocupação. Braço do maior grupo de fertilizantes do mundo, a empresa fechou 2008 com prejuízo líquido consolidado de R$ 355,8 milhões, ante lucro de R$ 88,9 milhões em 2007. Isso apesar de a receita ter aumentado 41%, para R$ 3,1 bilhões.

Sombrio - "Este ano será melhor do que 2008, mas ainda assim será sombrio. É muito difícil construir um bom resultado com a herança de 2008", afirma Lair Hanzen, presidente da companhia. A Yara Brasil encerrou 2008 com estoques totais avaliados em R$ 953,8 milhões, 87% mais que em 2007. Como as demais misturadoras que operam no Brasil, a Yara foi pega pela crise num momento em que estava muito abastecida, já que o terceiro trimestre normalmente é forte em vendas e o mercado costuma mostrar-se relativamente aquecido até o mês de novembro.

Heringer - A Heringer, outra empresa predominantemente misturadora - ocupa o terceiro posto neste ranking no país, atrás de Bunge e Mosaic -, só divulga seu balanço de 2008 em 12 de março, mas as perspectivas de analistas para seu resultado líquido se deterioraram nos últimos meses. A Brascan Corretora elevou sua estimativa para a receita da companhia de R$ 3,1 bilhões para R$ 3,4 bilhões, mas a projeção de um lucro líquido de R$ 122 milhões tornou-se uma perda estimada em R$ 240 milhões.

Cenário diferente - Para fabricantes de matérias-primas como a Fosfertil, a maior do país e na qual Bunge, Mosaic e Yara são as maiores acionistas, o cenário é diferente. Elas também carregam estoques pesados, mas reduziram a produção no segundo semestre de 2008 e alguns nutrientes, como os derivados do potássio, seguem com preços firmes. Além disso, com o reaquecimento do mercado essas companhias têm demanda garantida, uma vez que cerca de 70% da demanda doméstica é atendida por importações e a alta do dólar tirou competitividade do insumo vindo de fora. Na Fosfertil, os resultados de 2008 também são mais confortáveis. Balanço preliminar mostrou que a receita líquida subiu 41% sobre 2007, para R$ 3,4 bilhões, e que o lucro líquido cresceu 74%, para R$ 772,7 milhões. O ganho foi garantido até setembro, mas ainda assim é uma herança, neste caso, bem-vinda.

Atrasos - Ainda que a Fosfertil lidere os planos de investimentos de mais de US$ 4 bilhões em aumento da produção nacional nos próximos anos, teme-se por atrasos em projetos em curso no segmento. Hanzen, da Yara, garante que mesmo que as perdas da empresa em 2008 tenham "zerado" os lucros acumulados no país de 2000 a 2007, os aportes em elevação da produção no Rio Grande do Sul e Santa Catarina (este em parceria com a Bunge) serão mantidos, mas admite que poderá haver atrasos.

Demanda - Enquanto não divulga "oficialmente" as entregas de adubos em janeiro, Eduardo Daher, diretor-executivo da Anda, limita-se a afirmar que a demanda foi puxada por milho safrinha e trigo, as principais culturas de inverno. Mas diz que já houve antecipação de compras para o plantio de soja na próxima safra de verão. Esse impulso foi provocado pela valorização internacional do grão no mês passado, tendência que perdeu fôlego. (Valor Econômico)

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