IPC: Inflação para população de baixa renda mais que dobra no ano

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A inflação para os brasileiros de baixa renda nos primeiros quatro meses de 2010 foi a maior dos últimos seis anos. Pior: a alta foi concentrada nos preços dos alimentos, principal componente do consumo para quem faz parte dessa classe social. O Índice de Preços ao Consumidor-classe 1 (IPC-c1) acumulou 5% entre janeiro e o mês passado, mais que o dobro dos 2,1% apurados no mesmo período do ano passado. À frente, os produtos alimentícios passaram por elevação ainda mais íngreme - 8,6% nos primeiros quatro meses do ano.

Desaceleração - Os dados do IPC-c1, calculado pela Fundação Getulio Vargas (FGV) desde 2004, apontam para uma desaceleração, uma vez que a alta em abril, 1,28%, foi inferior ao 1,4% registrado em março. O índice leva em conta a alta de preços para quem ganha entre um e 2,5 salários mínimos, o que, pelo valor atualmente em vigor, representa rendimento entre R$ 510 e R$ 1.275. Os economistas avaliam que, conforme o rendimento aumenta, o peso dos diferentes itens e produtos na cesta de consumo varia. Entre os consumidores de renda mais baixa, os alimentos ocupam espaço maior, seguidos de gastos com habitação e transportes.

IPCA -  No Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), calculado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e usado pelo governo para balizar gastos no Orçamento e a política de metas de inflação, os alimentos têm peso inferior a 30%. O IPCA leva em conta o aumento de preços para quem ganha até 40 salários mínimos. No IPC-c1, o peso dos alimentos é de 40%. Assim, a alta de preços nos alimentos foi muito mais forte no IPC-c1 que no IPCA. Enquanto no IPCA o item alimentos e bebidas atingiu alta de 3,7% no primeiro trimestre, para a baixa renda a alta sentida foi de 6%.

Superior - A inflação para os consumidores de baixa renda nos primeiros meses do ano foi superior ao registrado em 2008, ano em que o Produto Interno Bruto (PIB) crescia a taxas elevadas e a alta de preços dos alimentos atingira 6,1% entre janeiro e abril, segundo dados do IPC-c1. Naquele ano, o Banco Central iniciou trajetória de alta das taxas de juros para arrefecer a demanda, que o governo julgava acelerada, e evitar o descontrole de preços. No mês passado, tal qual dois anos atrás, o BC começou a elevar os juros.

Evolução - "A evolução foi pior que a do começo de 2008, contudo, as semelhanças param por ai, já que entre meados de 2007 e a metade de 2008 o que se viu foi uma escalada dos preços de diversas commodities", afirma Fábio Romão, economista da LCA Consultores. Para Romão, a aceleração inflacionária verificada no início do ano ocorre devido a "choques de oferta temporários", como quebras de safra de cana-de-açúcar na Índia, grande exportador mundial, e excesso de chuvas no Brasil.

Recessão - Para Fábio Silveira, sócio diretor da RC Consultores, os preços dos alimentos cresceram sobre base rebaixada, depois das "quedas brutais" verificadas em 2009, devido à recessão global. "Há um aquecimento doméstico sim, que permite recomposição de preço, mas não vai além disso, quer dizer, estamos recuperando patamares perdidos com a deflação do ano passado", afirma. Tatiana Pinheiro, economista do Santander, no entanto, avalia que a alta de preços deve continuar. "Os preços subiram nos primeiros meses porque a atividade foi forte no fim do ano passado. Como a atividade continua acelerada, a tendência é que os preços tenham espaço para subir", diz. (Valor Econômico)

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