MERCADO: Para especialistas, grau de investimento do Brasil não virá agora
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A queda mais acelerada do risco-Brasil, que já despencou mais de 17% nos últimos 30 dias, está consolidando o cenário para que o país obtenha o tão sonhado "grau de investimento" das agências classificadoras. Mas, embora esteja perto da nota, o país ainda tem um árduo caminho a seguir até carimbar seu passaporte para um cenário mais otimista, que resulte em geração de emprego e de renda. A economista de mercados internacionais da consultoria Tendências, Alessandra Ribeiro, aposta que o "grau de investimento" virá apenas em 2009. A especialista explica que, ao avaliar uma "promoção" do país na escala, as agências observam essencialmente sua capacidade de honrar compromissos financeiros. Entre os indicadores mais importantes estão a relação entre dívida pública interna e o crescimento do produto interno bruto (PIB, soma da produção de empresas, famílias, entidades sem fins lucrativos e governo). Com a mudança da metodologia de cálculo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que revisou o crescimento do país de 2,9% para 3,7%, esta relação já caiu de 51,5% para 46,5%.
PIB – “Ainda assim, esta relação é alta. Quando outros países conseguiram o "grau de investimento", eles tinham uma relação entre dívida líquida e PIB entre 25% e 30%”, explica. A previsão da Tendências é de que o número chegue a 40% em 2009, ainda bem acima de outros países emergentes que obtiveram a classificação. - As agências olharão para frente e observarão que a trajetória é declinante, ainda que este número seja bem superior ao que os outros países tinham quando obtiveram as notas - acredita. Para Alessandra, é certo que o país terá alguma melhora em sua classificação de risco neste ano, mas ainda não será o "grau de investimento". “Primeiro, a gente tem que consolidar uma trajetória de crescimento. Os países que conseguiram esta classificação tinham uma expansão muito mais robusta. O Brasil, antes da revisão do cálculo do IBGE, crescia a uma taxa média de 2,5% nos últimos anos. Os países com grau de investimento crescem a um ritmo de 4% a 5%”.
Liquidez - A economista-chefe do BES Investimento, Sandra Utsumi, concorda. Para ela, a queda atual do risco está ligada ao aumento de liquidez do mercado internacional, à melhora dos indicadores econômicos especialmente após a revisão do PIB e a uma estratégia adotada pelo Tesouro de trocar papéis de curto prazo e com taxas maiores por emissões de prazo mais longo, com custo mais baixo. Mas, ressalta, tudo isso ainda não é suficiente: “Além da relação entre dívida e PIB alta, o Brasil não consolidou um movimento de abertura para o restante do mundo, com sua economia fortemente movida pelo consumo doméstico. O país precisa de infra-estrutura e de competitividade”. Como exemplo de atraso, ela cita o setor de serviços: “Se o Brasil quisesse competir com a Índia no segmento de call center, por exemplo, não poderia porque não dispõe de mão de obra que fale inglês”, pontua. Alessandra explica que, apesar de ainda não ter se concretizado, a perspectiva de classificação de investimento já está beneficiando o consumidor final: “Com a melhora recente do risco-Brasil, as empresas nacionais já conseguem obter, no exterior, financiamentos com taxas mais baixas que acabam sendo repassadas para preços finais de mercadorias. Quando a classificação vier, o país poderá ter um fluxo maior de investimentos porque a regulamentação de alguns grandes fundos só permitem que eles entrem em países 'investment grade. Isso possibilitará, por exemplo, a expansão do setor imobiliário aqui dentro, o que tem impacto em emprego, renda, custo etc”. (O Globo online)