MERCOSUL: Expectativa de barreiras argentinas gera reação

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Apesar de ainda não ter sido oficializada, a notícia de que a Argentina pretende impor novas barreiras alfandegárias a uma série de produtos alimentícios está provocando apreensão em alguns segmentos da economia brasileira - em especial as que comercializam derivados de milho, carne de frango e suíno. Entidades defendem que o Brasil pressione o sócio no Mercosul e restrinja a importação de produtos argentinos. O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, ordenou que o embaixador em Buenos Aires, Ênio Cordeiro, elevasse o tom.

Recado - Segundo o Itamaraty, Cordeiro se encontrou nesta quarta-feira (12/05) à tarde em Buenos Aires com o subsecretário de Integração Econômica da Argentina, Alfredo Chiara, para repassar o recado do governo brasileiro. Apesar de ainda não confirmados, os rumores de novas medidas protecionistas por parte das autoridades argentinas também acenderam a luz amarela no governo, que busca recuperar mercados para as exportações em ano de forte aumento das compras brasileiras no exterior.

Rumores - As informações a respeito das barreiras começaram a circular porque o secretário de Comércio Interior da Argentina, Guillermo Moreno, teria comentado com supermercadistas que proibiria a entrada de produtos alimentícios não frescos que concorrem diretamente com os similares daquele país. A ideia seria colocar a medida em prática no dia 1º de junho, com fiscalizações nos supermercados marcadas para começar no dia 10, mas caminhões brasileiros já estariam sendo impedidos de entrar na Argentina.

Barrados - O diretor do Departamento de Relações Internacionais e Comércio Exterior da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Ricardo Martins, garantiu que quatro carregamentos foram barrados na Aduana de Uruguaiana, no Rio Grande do Sul. As cargas de massas de tomate, milho em conserva, chocolate, chips e outros elaborados e semi-elaborados brasileiros estariam na fronteira gaúcha desde a última segunda-feira (10/05). Em Foz do Iguaçu, outra importante rota regional, não há registro de caminhões parados. "As restrições não têm sentido", queixou-se Martins afirmando que não existe nenhuma justificativa racional para essa nova investida: "O comércio bilateral anda bem, superados os problemas das licenças não automáticas do ano passado; além disso, a Argentina tem superávit comercial no setor de bebidas e alimentos".

Paraná- A Argentina é o segundo maior parceiro comercial do Paraná. Em 2009, somou 10,37% das negociações feitas pelo estado com o exterior. No total das importações (US$ 1,3 bilhão) e exportações (R$ 860 milhões), os vizinhos ficaram atrás apenas da China, que acumulou um fluxo de comércio de R$ 2,5 bilhões ou 12% do comércio exterior paranaense. Na lista de produtos mais vendidos ao vizinho estão automóveis, tratores, peças, papel, derivados do ferro e refrigeradores, todos fora da esperada lista.

Queda de braço comercial é histórica - A histórica disputa comercial entre o Brasil e a Argentina dentro do Mercosul tem se intensificado desde 2002. Nos últimos dois anos, a ameaça da crise econômica mundial fez com que alguns países adotassem medidas restritivas a fim de proteger suas indústrias. No bloco, a crise serviu de argumento para aumentar as retaliações, afastando cada vez mais a posição do Mercosul da ideia de um autêntico mercado comum.

Lista - Em outubro de 2008, por exemplo, a aduana argentina anunciou a inclusão de 120 produtos em uma lista de quase 22 mil itens que passariam a ter maior rigor na importação. No alvo, estavam os produtos brasileiros de origem têxtil e os eletrodomésticos. Três meses depois, o país vizinho adotou licenças não automáticas para a entrada de pneus e multiprocessadores de alimentos. Restrições tarifárias afetaram também tubos de aço e ferro e a proteção aos têxteis tiveram um novo reforço

Mudanças - Em uma tentativa de reverter as sanções do país vizinho, o Brasil anunciou no fim do ano passado mudanças no sistema de importação de produtos argentinos. Vinho, azeite, azeitona, farinha de trigo e frutas, antes com licenças automáticas, passaram a ter de requerer a autorização junto à Secretaria de Comércio Exterior (Secex). É por essas e outras que as supostas recomendações do ministro do Comércio Interior da Argentina, Guillermo Moreno, para que os supermercadistas do país vizinho deixem de importar bebidas e alimentos industrializados semelhantes aos produzidos no país não são tão surpreendentes - mas nem por isso menos preocupantes. (Gazeta do Povo, com Agências)

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