OPINIÃO: Boa safra não desfaz dificuldades do produtor

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Luiz Lourenço (*)

Depois de dois anos muito difíceis, marcados por estiagens e preços baixos que sequer cobriam os custos de produção da soja, o agricultor está, enfim, colhendo uma boa safra. Tudo correu bem desta vez: as lavouras foram plantadas a um custo 25% mais baixo em média, comparando com o ciclo 2005/06, enquanto as chuvas ocorreram na hora certa, favorecendo o potencial produtivo. Para completar, o produtor soube enfrentar a ameaça das doenças fúngicas, que se anunciavam tão devastadoras, ao passo que o dólar cessou sua trajetória de queda, mantendo-se praticamente estável na faixa de R$ 2,10.


Tudo vai bem? Claro que era este o cenário esperado pela agricultura, após flagrante processo de descapitalização que, em curto espaço de tempo, consumiu reservas e levou a um acúmulo de dívidas. Pode se afirmar que o produtor está de alma lavada, embora ainda muito longe de sentir-se aliviado. Portanto, no momento em que a mídia começa a veicular reportagens sobre o virtuosismo da atual safra (com os exageros de sempre), é preciso ter a exata compreensão dos fatos para entender que o momento ainda não é de lucratividade, mas, esperamos, o começo de uma recuperação.


Por melhor que seja, a safra em andamento não será o bastante para resolver todos os problemas do campo. Afinal, o passivo que ficou dos últimos anos (a dívida do agronegócio com fornecedores e bancos passaria de R$ 30 bilhões), rolado para ser pago em um futuro próximo, não permite que se afrouxe o cinto. É preciso continuar produzindo bem nas próximas safras não só para recompor as reservas exauridas em tempos difíceis, como também para sobreviver da atividade e planejar os indispensáveis investimentos em tecnologias.


A equação não é simples. Se de um lado os compromissos financeiros pesam sobre a cabeça do agricultor, tirando-lhe o sono, de outro ele sabe que está diante do imponderável e de incertezas para prosseguir em seu negócio. O produtor depende de chuva na hora certa para que sua lavoura cresça e também de uma série de fatores favoráveis para produzir bem. No ano passado, após um início chuvoso, a estiagem e o calor forte atingiram a soja em sua fase mais crítica, golpeando em 1/3 a produtividade da soja. Aliás, todas as últimas quatro safras, na seqüência entre os meses de verão e inverno, foram prejudicadas pelo clima.


Além do fator tempo, é preciso que o agricultor conte com maior respaldo por parte do governo federal, sobretudo no que refere à destinação de recursos em volumes suficientes para custeio e comercialização das safras, além de sensibilidade para levar a bom termo a delicada questão das dívidas, estabelecendo mecanismos que possibilitem o seu pagamento. Outra preocupação é com o câmbio, que tem afetado – e muito - a competitividade dos produtos brasileiros.


Felizmente o produtor paranaense – cuja maioria é formada de pequenos e médios proprietários – pode contar com o apoio do cooperativismo que, ao contrário do que acontece em outras regiões do País, garante sustentação ao seu negócio, disponibilizando estruturas para entrega da produção, armazéns, orientação técnica, informação e preço justo. Isto suaviza o impacto de um período adverso, a exemplo do que se viu nos últimos anos, a menos, é claro, que o produtor tenha, inadvertidamente, investido errado. Não fosse pelo sistema cooperativista, que organiza a produção e regula o mercado regional, com certeza uma parte significativa deles já teria abandonado a atividade.
    
(*) Presidente da Cocamar Cooperativa Agroindustrial

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