OPINIÃO: Mídia e cooperativismo

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(*) Marcos A. Bedin

É difícil saber quais as instituições mais importantes da sociedade brasileira na opinião do cidadão. É mais fácil saber qual a percepção do público a respeito de algumas instituições. Qualquer investigação nesse sentido concluirá, sem muito esforço, que o público considera importante aquelas instituições que freqüentam os meios de comunicação, numa clara comprovação de um fenômeno que os norte-americanos chamaram de “mídia setting”. Ao elencar os temas sobre os quais se ocupa, em abordagens que vão de análises interpretativas e opinativas a grandes reportagens, os meios definem a pauta que a sociedade discutirá.

Por isso, a leitura que o público leigo faz é a seguinte: o que é importante está na mídia; o que não está na mídia... Entretanto, os jornalistas não são oniscientes nem ubíquos e, por isso, ocorre uma recorrente injustiça nesse processo: existem temas essenciais, instituições fantásticas e realizações humanas edificantes que não emplacam na mídia, portanto não são valorizadas nem reconhecidas. Esta constatação é comum nas sociedades democráticas que vivem o regime de plena liberdade de imprensa e gera uma corrida das instituições, empresas e governos para “emplacar” na mídia, ganhar visibilidade e viabilizarem seus objetivos. Ações de assessoria de imprensa, comunicação empresarial, relações públicas, propaganda e publicidade são programadas e desenvolvidas para obter o tão desejado emplaque positivo nos meios.

Esse intróito pode explicar porque o grande público não tem uma percepção forte e definitiva sobre uma das instituições que maior contribuição oferece ao desenvolvimento nacional e à superação das desigualdades sociais: o cooperativismo. É verdade que, por uma característica de origem, as cooperativas priorizaram a comunicação intrainstitucional como instrumento para fortalecer as bases do sistema e a cultura cooperativista pelo exercício de um de seus principais postulados – educação, formação e informação – voltados para o público interno: os associados, os dirigentes e os colaboradores.

As cooperativas são organizações humanas com motivação social que precisam sobreviver e prosperar em um ambiente hostil e competitivo. Por isso precisam falar para a sociedade e públicos externos, como a imprensa, o governo, os consumidores etc. Importante passo nesse sentido vem dando o órgão máximo do setor, a Organização das Cooperativas do Brasil, que aplicou ano passado elucidadora pesquisa sobre a visão dos brasileiros a respeito da cooperação. Com base nessa pesquisa, sustentou breve campanha nacional, conceitual e institucional, sobre o cooperativismo. É um primeiro passo para uma nova política de comunicação para o cooperativismo brasileiro.

É preciso mostrar para o país que o cooperativismo é uma alternativa ao capitalismo selvagem e ao socialismo utópico, é um caminho para o desenvolvimento, a democracia e a paz. Santa Catarina é um exemplo emblemático. Aglutinadas na Organização das Cooperativas do Estado de Santa Catarina (Ocesc), 252 cooperativas dos ramos agropecuário, consumo, crédito, educação, especial, habitação, infra-estrutura, mineração, produção, saúde, trabalho e transporte reúnem 672.975 cooperados (associados), o que permite concluir que – considerados os familiares – um terço da população de Santa Catarina está diretamente vinculado ao cooperativismo. É uma formidável força econômica: para a consecução de suas atividades, as sociedades cooperativas empregam diretamente 22.100 pessoas e obtém um faturamento global de R$ 6,9 bilhões, movimento econômico que representa 12% do PIB catarinense.

Em recente manifestação, o presidente da Ocesc, Neivor Canton, professou sua fé na doutrina cooperativista e na ação das cooperativas para reduzir as desigualdades, promover o desenvolvimento e obter a independência das diversas classes e categorias profissionais ou econômicas. Sugeriu que fossem comparados o IDH dos municípios brasileiros onde existem cooperativas com aqueles que não as possuem. A conclusão é evidente: onde o cooperativismo estiver atuante, toda a sociedade compartilha de seus ganhos. Dessas perorações extrai-se uma ilação: falar para a sociedade envolvente, eis o novo desafio do cooperativismo.

(*) Jornalista, diretor da MB Comunicação e diretor regional da Associação Catarinense de Imprensa (ACI)

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