Opinião: Os lucros dos bancos e seus custos para sociedade

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Dilceu Sperafico (*)

A quem interessa o crescimento fantástico dos lucros dos bancos brasileiros? Pelo que tem sido noticiado, aos banqueiros, grandes grupos econômicos, especuladores e alguns partidos políticos, que tiveram doações multiplicadas. Aos setores produtivos e cidadãos, que trabalham e produzem as riquezas nacionais, os ganhos das instituições financeiras representam um peso extra.

Outro setor penalizado é o poder público, que precisa financiar sua dívida através da emissão e venda de papéis. Os lucros dos seis maiores bancos brasileiros cresceram 44% em 2005, superando 20 bilhões de reais, um recorde histórico. Somente uma instituição lucrou 5,5 bilhões de reais, 80,2% a mais do que no ano anterior.

Os ganhos espetaculares estão sendo creditados às altas taxas de juros, as maiores do mundo, aumento das tarifas e expansão do crédito, beneficiando bancos particulares e públicos. O Banco do Brasil apresentou resultado líquido de 4,1 bilhões de reais, 37,4% a mais do que em 2004, e a Caixa Econômica Federal lucrou dois bilhões de reais, 46% acima do exercício anterior.

Outra prova da voracidade dos bancos foi elevação de 0,3 ponto percentual do juro médio do cheque especial, que chegou a 147,8% ao ano em janeiro último, mesmo com a redução da taxa básica. Os juros pagos pelo poder público ficaram em 19% ao ano, que foi a média da taxa básica, ganhos de instituições financeiras sem similares no mundo.

A distorção é mais um efeito colateral da política econômica que premia a especulação em detrimento da produção. Ao invés de controlar a inflação através do incentivo à produção, pois a oferta que cobre a demanda sempre resulta na estabilização e até queda nos preços, o Governo prefere elevar ou manter elevadas as taxas de juros, beneficiando o capital especulativo.

Os lucros exorbitantes do setor financeiro representam dinheiro retirado do setor produtivo. São recursos que fazem falta à agricultura, comércio, indústria e consumidor e juros que oneram financiamentos concedidos. Se taxas de juros e tarifas cobradas pelas instituições financeiras em suas operações fossem menores, haveria mais dinheiro para agropecuária, geração de empregos, obras públicas, educação, saúde e assistência social.

Todos os níveis de governo teriam mais recursos para aplicar no bem-estar dos cidadãos e a iniciativa privada poderia investir muito mais em suas atividades produtivas. O cidadão, que paga juros extorsivos no cheque especial ou crédito pessoal, poderia oferecer mais conforto à família.

Poderia usufruir de mais lazer, investir mais na educação dos filhos e aprimoramento profissional e até poupar para comprar a casa própria ou adquirir bens duráveis, como automóveis e eletroeletrônicos. O fato do setor financeiro estar acumulando lucros cada vez maiores é injusto e prejudicial aos interesses nacionais, porque tais ganhos são constituídos com o sacrifício dos que trabalham e produzem.

Representam benefícios para poucos à custa da exploração de muitos. Tanto que o setor bancário, apesar dos ganhos históricos continua a demitir e conforme lideranças dos bancários, são cada vez mais numerosos os trabalhadores afastados da atividade por transtornos físicos e mentais.

Muitos sofrem lesões por esforço repetitivo e extensas jornadas de trabalho, outros, a exemplo das demais vítimas da ganância do sistema, não suportam o estresse da obrigação de atingir metas de produção e acabam contraindo doenças mentais. O que sobra em rentabilidade aos bancos brasileiros, portanto, lhes falta em responsabilidade social, com funcionários, clientes e a própria sociedade brasileira.


* O autor é deputado federal pelo Paraná.

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