(*) Sigismundo Bialoskirski Neto
(**) Ricardo Lima de Andrade
Em importantes regiões produtoras, a cafeicultura está associada às pequenas e médias propriedades rurais, responsáveis por perto de 1/3 do parque produtor. Muitas vezes, pela impossibilidade de mecanizar os tratos culturais, as unidades utilizam intensiva mão-de-obra ao longo de todo o ano agrícola. Organizados em cooperativas, ganham força na comercialização da produção, conseguem assistência técnica e fazem uso de insumos.
As cooperativas foram constituídas em sua maioria ao longo das décadas passadas, com o objetivo de organizar a produção de café. Representam o “braço econômico e social” do setor. Suas atividades abrangem:
O processo de modernização do sistema produtivo, por meio da difusão de tecnologia e assistência técnica;
A comercialização da safra para a melhora da remuneração do cafeicultor.
Relacionada à tentativa de proteção do produtor rural contra as variações de renda do setor, a formação das cooperativas acompanha o desenvolvimento e o trajeto da cafeicultura nacional.
Como os produtores de café são tomadores de preços e obrigados a enfrentar mercados concentrados, as cooperativas prestam uma importante função de negociar preços “antes da porteira” e de propiciar a agregação de valor “depois da porteira”.
Cooperativas: mix de produtos, serviços e tecnologias aos associados.
Ao agregar renda aos produtores rurais, as cooperativas fortalecem as economias das regiões produtoras. Nos locas onde há cooperativas pesquisas mostram que, para cada 10% de aumento na proporção de cooperados, há um acréscimo de perto de 2,5% da renda média local.
A Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB) contabilizou 74 cooperativas com operações café. Em 40 delas, o produto era a sua principal atividade. Aproximadamente 28% do café nacional, perto de 10 milhões de sacas em média, são originados por meio de cooperativas agropecuárias localizadas principalmente no sul de Minas Gerais, na Alta Mogiana, no estado de São Paulo e no Cerrado mineiro. Esses números referem-se a levantamento de 2005.
A exportação de café das cooperativas é estimada em aproximadamente 6% das exportações brasileiras. Grande parte da origem de cafés para exportação é realizada por cooperativas de cafeicultores em aquisições diretas pelos players exportadores.
Em função da nova dinâmica do agronegócio mundial e, por conseqüência, também da cafeicultura, as cooperativas assumem importante desafio de promover a agregação de valor ao produto e o acesso a mercados internacionais com o desenvolvimento de estratégias para industrialização e comercialização.
Para os dirigentes e cooperados o objetivo passa a não ser mais apenas a produção de café, mas também como e onde acessar os consumidores mais exigentes. É o caso da oferta de produto torrado e moído, de valor agregado, por meio de marcas de qualidade, além de estratégias para chegar diretamente até o consumidor final por meio do estabelecimento de cafeterias.
Cada vez mais, a cooperativa de café visualiza a cafeicultura dentro de modernos conceitos de cadeias de negócios. Assim, participa mais e melhor na captura de valores, como o desenvolvimento de estratégias para o avanços nos segmentos posteriores à produção. Isso permite maior proximidade com os consumidores, de modo a prever os movimentos de hábitos de consumo e ajustar os seus planos iniciais de produção. A formação de alianças estratégicas, networks e parcerias para o fortalecimento do setor pela associação entre cooperativas é o maior desafio para que o sistema cooperativo brasileiro do agronegócio do café evolua, agregue valor ao produto e permaneça competitivo em um mundo de negócios cada vez mais exigente e desafiador.
(*) Professor titular e vice-diretor da Faculdade de Administração e Contabilidade de Riberão Preto da Universidade de São Paulo.
(**) Diretor secretário da Cocapec. Artigo publicado na Revista Agroanalysis. Vol 26 – nº 11 – Novembro de 2006. |