Pesquisa do trigo busca variedades industriais
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As instituições de pesquisa de trigo no Brasil estão se dedicando ao desenvolvimento de materiais com produtividade e qualidade industrial. Se no mercado os preços preocupam, na área técnica, a triticultura, atualmente, busca dar sua contribuição para conectar os elos entre as várias etapas da cadeia produtiva, da pesquisa à industrialização. Para o produtor, nesse contexto, se desenha a tendência de produzir materiais destinados a produtos específicos e de se realizar a segregação na entrega da safra junto à indústria. A avaliação é de Celso Wobeto, diretor técnico da Fundação Agrária de Pesquisa Agropecuária (Fapa), e do pesquisador de trigo, Juliano Luiz de Almeida, que também atua naquela instituição de pesquisa - fundada pela Agrária em 1994.
Qualidade para o mercado - Wobeto destaca que a questão do trigo, hoje, abrange uma série de detalhes técnicos e comerciais, ressaltando que o agricultor deve estar atento a esta realidade, para produzir segundo as indicações técnicas da pesquisa e corresponder às expectativas da indústria em termos de qualidade e de especificação de cada tipo de trigo. A segregação que hoje já ocorre na recepção do produto em algumas indústrias, conforme explicou, é um dos elos que se interliga com a própria pesquisa: "Na medida em que se acha novos nichos de mercados, surge a necessidade desta segregação na recepção", declarou, acrescentando que "a pesquisa fornece subsídios para que isso aconteça".
Parceria - A Fapa é parceira das seguintes instituições de pesquisa: OR Melhoramento, Coodetec, Fundação Meridional (material genético da Embrapa Soja e Iapar) e Fundação Pró-Semente (ligada ao programa Embrapa Trigo). Várias das lavouras experimentais brasileiras estão situadas na Fapa, em Entre Rios (Guarapuava), ou em áreas de Cooperados da Agrária, próximas à instituição. "Eles trazem o material segregante e com isso aumenta a chance de se ter uma cultivar adaptada à nossa região", detalhou o pesquisador Juliano Luiz de Almeida. Resultante desta parceria, o cultivar CD Fapa 116 já está em fase de multiplicação e, segundo prevê o pesquisador, deverá chegar para o produtor de todo o Paraná em 2006. Com ciclo precoce e porte baixo, o novo material tem classe industrial "pão". Experimentos conduzidos na Fapa demonstraram que o centro-sul do Paraná, além de ser apropriado para a produção de trigo brando (destinado à farinha para biscoitos e bolachas) também é viável para aquele tipo de trigo, como a própria CD Fapa 116.
Adequação à indústria - Com seus 220 hectares de campos experimentais situados exatamente naquela área do Estado, a Fapa está empenhada em caracterizar os vários materiais dentro da sua regularidade, para que a indústria tenha uma informação segura do uso de cada cultivar. "Dentro da linha de segregação, é preciso ter certeza do que a indústria precisa", observou Juliano, assinalando que "nem sempre o cultivar de interesse da indústria é o mesmo que o produtor quer plantar", e defendendo a necessidade de se "trabalhar esse casamento" entre os dois lados. O pesquisador ressaltou também que embora o uso de cultivares destinados a produtos específicos e a segregação deste produto na indústria nem sempre seja sinônimo de bonificação - remuneração direta almejada por todo produtor -, a segregação traz um ganho importante, concretizado de forma indireta, mas real: "O trigo segregado do nosso produto, vai produzir uma farinha com identidade, um produto que tem maior competitividade no mercado. Se a farinha da Agrária tem maior liquidez, o trigo do nosso Cooperado também tem", analisou. Confirmando a mesma idéia, Celso Wobeto afirmou que "a segregação é uma necessidade para ficar no mercado", recordando que "quem segrega tem mais facilidade de fazer negócio".