PESQUISA II: Investimento e burocracia travam expansão
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Se produzir inovações científicas é uma tarefa difícil, aplicar o conhecimento já existente pode ser uma missão ainda mais árdua. O desafio de transferir para o campo as tecnologias geradas em laboratórios de ponta passa por burocráticos processos de biossegurança e regulamentação e é um dos principais entraves à expansão biotecnológica no setor agropecuário. O lançamento de novos produtos também esbarra na limitação de recursos disponíveis para pesquisa e desenvolvimento, um trabalho longo e caro. ]
Soja - Primeiro cultivo geneticamente modificado desenvolvido no Brasil, desde o laboratório até a comercialização, a soja Cultivance, tolerante a herbicidas, é um retrato dessa situação. Mesmo unindo forças da iniciativa pública e privada, a oleaginosa que nasceu de uma parceria entre a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e a multinacional alemã Basf levou dez anos para ficar pronta. Foi aprovada pela Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) no início do ano passado, mas deve chegar produtor somente na safra 2012/13.O processo todo custou cerca de US$ 20 milhões. Dos US$ 7 milhões aplicados pela Embrapa, mais da metade foram usado para custear despesas de regulamentação, relata Elibio Rech, pesquisador que coordenou o trabalho. Essa fase é uma das mais morosas. No caso da Cultivance, durou mais de sete anos, segundo ele.
Embrapa - O feijão resistente ao mosaico dourado, que teve seu pedido de liberação comercial protocolado pela Embrapa junto à CTNBio no mês passado, é outro exemplo. As pesquisas começaram há vinte anos e tiveram que ser interrompidas em várias ocasiões, ora por falta de recursos, ora por questões regulatórias. Conforme o pesquisador e líder do projeto, Josias Correa de Faria, a pausa mais longa ocorreu entre 2000 e 2004. No ano seguinte, uma injeção de recursos da Monsanto permitiu a retomada dos testes de campo. Após aprovação da CTNBio, precisará de novos investimentos para conclusão do processo de registro junto ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), previsto para 2012. Ao produtor, o primeiro feijão transgênico do mundo deve chegar em 2014. "O feijão é extremamente importante porque prova que, apesar das dificuldades, podemos produzir alta tecnologia agrícola de qualidade em um ambiente público", diz Aragão. (Gazeta do Povo)