PESQUISA: Sem os novos pesquisadores, trabalhos são interrompidos
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O consumidor raramente se dá conta da carga de pesquisa embutida em cada alimento que leva à mesa, em cada peça de roupa que veste, em cada aparelho eletrônico que liga. O prato de arroz e feijão (o carioquinha, desenvolvido pelo IAC), o churrasco (com carnes do melhor corte, graças às pesquisas do IZ, e livres de doenças, graças ao trabalho dos pesquisadores do IB), o suco de laranja pasteurizado do café da manhã (desenvolvido no Ital), a malha de lã (dos ovinos melhorados em Nova Odessa), o peixe mais barato (resultado das atividades no IP), o cafezinho de qualidade (melhorado geneticamente desde 1932) são alguns exemplos do reflexo do trabalho desses pesquisadores no cotidiano. Há pelo menos três exemplos de pesquisas que podem ser prejudicadas com a evasão de novos pesquisadores. O pesquisador Luiz Henrique de Carvalho trabalha no programa de algodão do IAC, com melhoramento genético da planta. "O rapaz que entrou pelo concurso de 2004 para me suceder foi embora dia 31 de outubro. Se eu resolver usar do meu direito de me aposentar, daqui a poucos anos eu tranco a porta da minha sala e ninguém vai saber o que está lá. Ou então eu vou pegar a chave e entregar para alguém que, ou vai demorar para conseguir se situar sobre o andamento da pesquisa, ou vai começar do zero", afirmou.
Descontinuidade - O abismo de gerações e a descontinuidade da renovação de pesquisadores nesse caso teriam reflexo na produção de novas espécies de algodão. Sem cultivares melhoradas, o produtor perde qualidade. A indústria têxtil, idem. Abrem-se as portas para a importação e o produto encarece. O diretor do Centro de Grãos e Fibras do IAC, Ignácio José de Godoy, coordena pesquisas sobre amendoim. "A agroindústria da confeitaria é abastecida com produto produzido no Brasil. Se acaba a pesquisa com amendoim, a cadeia de produção é afetada, pois o produtor perde qualidade e a indústria importa. Além disso, se não houver pesquisa, não há novas cultivares e as já existentes ficam mais suscetíveis a doenças e pragas no campo", afirmou. Assim como Carvalho, Godoy ficou sozinho na sua área de pesquisa. Sua nova colega de trabalho, que passou no concurso de 2004, deixou o IAC por um salário melhor.
Potencial - As pesquisas coordenadas por Marilene Leão Alves Bovi no IAC permitiram a descoberta do potencial do palmito pupunha e contribuíram para a diminuição do desmatamento, já que se tratava de uma atividade basicamente extrativa. Em parceria com o Ital, Marilene estudou como plantar, adubar, colher e processar melhor o pupunha. O medo do consumidor é bem menor hoje em dia, pois o produto além de mais barato tem maior segurança alimentar, graças a pesquisas realizadas no Ital. Marielene morreu no acidente aéreo que matou as 154 pessoas a bordo do Boeing 737 da Gol, no dia 29 de setembro deste ano. "A pessoa que vai assumir a pesquisa no lugar dela terá de dar continuidade com qualidade. Para isso, o ideal seria que ela já estivesse treinando alguém, para que todo o conhecimento adquirido fosse aplicado continuamente", afirmou o diretor do IAC, Orlando Melo de Castro. Os institutos paulistas têm excelência nas pesquisas com citros, café, cana-de-açúcar, combustível biodiesel, melhoramento genético de gado de corte e ovinocultura. "A pesquisa é um passar de bastão. Para quem a gente vai passar?", questiona o diretor do IZ, Paulo Bardauiul Alcântara. (O Estado de S.Paulo)