SAFRA 2008/09: Cana sem entressafra no Paraná
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Algumas usinas de açúcar e álcool do Paraná vão ter de protelar o corte de cana e virar o ano moendo a matéria-prima para saldar compromissos e tentar se aproximar do cronograma previsto para a safra deste ano (2008/09). As chuvas que caíram durante o ano, a pouca oferta de mão-de-obra e a falta de crédito causaram atrasos e interrupções na colheita. Por conta disso, algumas usinas podem emendar uma safra na outra, acabando com o período de entressafra (quando as fábricas paralisam os trabalhos para manutenção), que normalmente acontece entre 20 de dezembro até início de março. Segundo o presidente da Associação Paranaense dos Produtores de Álcool e Açúcar do Paraná (Alcopar), Anísio Tormena, algumas usinas vão continuar trabalhando na entressafra para saldar dívidas, cumprir compromissos feitos em contrato e aproveitar parte da matéria-prima que sobrou no campo. Das 30 indústrias, entre usinas e destilarias, pelo menos quatro delas vão continuar a moagem ou antecipar a safra.
Copagra - A destilaria da Cooperativa Agroindustrial do Noroeste Paranaense (Copagra), em Nova Londrina (Noroeste), antecipará a safra 2009/10 para meados fevereiro. De acordo superintendente industrial da cooperativa, Ramon Orlando Villareal, sobrarão cerca de 200 mil toneladas na área de plantio da Copagra, das 870 mil toneladas cultivadas. "Se somarmos as horas que a indústria ficou parada por causa da chuva, teremos 60 dias de paralisação durante o ano", lembra.
Exportação - De acordo com Villareal, a destilaria exportou este ano 27 milhões de litros de álcool dos 65 milhões produzidos. Ele afirma que todos os compromissos do ano foram cumpridos e que a moagem será antecipada devido à sobra de cana em pé no campo, além da intenção de ampliação da cultura. "Vamos aumentar a produção em 30 mil toneladas na próxima safra", diz. Ele conta que a Copagra não está tão atrasada porque a cooperativa aproveitou o mau tempo durante o ano para começar a manutenção das máquinas. "Já adiantamos um pouco, mas em janeiro e início de fevereiro vamos continuar a manutenção para dar conta de iniciar a safra mais cedo", explica.
Cana de sobra - Segundo a Alcopar, o Paraná produziu durante esta safra 52 milhões de toneladas de cana. Mas, até 1.º de dezembro, apenas 41 milhões foram esmagadas. "Hoje, o estado planta 550 mil hectares, e vão ficar na lavoura entre 8 e 10 milhões de toneladas para serem colhidas e industrializadas na safra que vem", diz o presidente da associação. A área de plantio cresceu 10% no Paraná neste ano. Mesmo assim, quantidade de cana esmagada vai ficar próxima da safra de 2007, quando foram processadas no estado 40 milhões de toneladas. Foi produzido mais álcool e menos açúcar, em 2008, em comparação com 2007. Nesta safra, foram industrializados 2,2 milhões de toneladas de açúcar contra 2,4 milhões em 2007, queda de 8%.
Produção - A produção de álcool foi a quase 2 bilhões de litros neste ano, 15% a mais em relação ao ano passado, que fechou com 1,7 bilhão de litros. Dados da Alcopar revelam que o consumo mensal de etanol no mercado interno brasileiro subiu de 1,6 bilhão de litros em 2007 para 1,9 bilhão em 2008, aumento de 19%. Segundo Tormena, o Paraná é o segundo maior produtor de cana-de-açúcar do país, atrás de São Paulo, que produziu 340 milhões de toneladas neste ano.
Setor sucroalcooleiro suspende implantação de usinas - O setor sucroalcooleiro paranaense vai começar a próxima safra com muita cautela. A crise econômica mundial se reflete no mercado com falta de liquidez, custos elevados e produtores descapitalizados. De acordo com o superintendente industrial da destilaria da Cooperativa Agroindustrial do Noroeste Paranaense (Copagra), Ramon Orlando Villareal, o impacto da crise deve ser maior no próximo ano. "Precisamos ter linhas de crédito facilitadas, juros menores e insumos mais baratos para garantir a safra do ano que vem", diz. A crise financeira fez com que empresários e cooperativas mudassem os planos. Eles temem que os problemas de liquidez e o atraso nas entregas de equipamentos prejudiquem instalação de novas usinas no estado. Só para se ter uma idéia, das oito novas plantas previstas para funcionar na próxima safra, todas tiveram os projetos postergados.
Otimismo - Mesmo com o perfil desfavorável, o presidente da Associação Paranaense dos Produtores de Álcool e Açúcar do Paraná (Alcopar), Anísio Tomerna, está confiante. "Acredito que a troca de governo norte-americana deve beneficiar o setor. O novo presidente dos Estados Unidos (Barack Obama) já anunciou que quer misturar álcool à gasolina. Nesse contexto, há a possibilidade concreta de crescimento das exportações, já que haverá desaceleração do uso do milho para a produção do etanol norte-americano, além de outros mercados que podem ser explorados", lembra. Caso as previsões de aumento das exportações se concretizem, Tormena garante que não faltará o produto no mercado interno. "A nossa prioridade é o mercado interno, sem dúvida. Não será exportado álcool em detrimento do mercado brasileiro", ponderou. (Gazeta do Povo)