SESCOOP/PR 10 ANOS: História/Parte 3: Recoop deu novo fôlego ao setor

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Em 1998, o cooperativismo agropecuário brasileiro passava por um período de dificuldades. Sucessivos planos econômicos aumentaram dívidas do setor, enquanto os preços agrícolas ficaram congelados ou desabaram. Com pouca ou nenhuma rentabilidade, as cooperativas perdiam capacidade de investimento e, por consequência, tornavam-se menos competitivas num mercado fortemente influenciando pela globalização. Desde 1997, o movimento cooperativista estava mobilizado em torno de discussões para a renegociação de dívidas e capitalização das cooperativas.

 "O Recoop nasceu graças a uma atuação sistemática e disciplinada do cooperativismo brasileiro. Foram realizadas mais de 50 reuniões, nas quais aprofundados estudos e levantamentos técnicos eram apresentados e discutidos com dirigentes das cooperativas, ministros e representantes do governo e também parlamentares. O Programa somente aconteceu por que houve seriedade em sua concepção", analisa João Paulo Koslovski, que participou do processo de negociação.

De acordo com o dirigente, na época o trabalho visava solucionar três questões: renegociar as dívidas das cooperativas, criar o Serviço de Aprendizagem para o sistema cooperativo e aprovar a nova Lei Cooperativista. "Depois de análise da área jurídica do Ministério da Fazenda, foi definido que a legislação do cooperativismo seria discutida no Congresso Nacional, mas o Recoop e o Sescoop seriam sim implementados e apoiados pelo governo", lembra.

Em 3 de setembro de 1998, o presidente Fernando Henrique Cardoso, por meio da Medida Provisória n° 1.715, lançava o Programa de Revitalização do Cooperativismo Agropecuário Brasileiro, disponibilizando cerca de R$ 3 bilhões ao setor. O objetivo foi reestruturar e capitalizar as cooperativas, ampliar sua competitividade, gerar empregos e dar possibilidade para novos investimentos em agroindustrialização. 

Mais do que renegociar dívidas, o Recoop impôs contrapartidas que buscavam garantir a saúde financeira do setor, estipulando como condição para ter acesso aos recursos do Programa que a cooperativa elaborasse cinco projetos: de reestruturação, de capitalização, de profissionalização da gestão, de organização e profissionalização de cooperados, e de monitoramento do plano de desenvolvimento. Entre outras providências, foi estabelecido como meta o treinamento e profissionalização dos funcionários e a reorganização e participação do quadro social e sistemas de auditoria, tarefa que passou a ser atribuição do Sescoop. Em todo o país, 439 cooperativas tiveram seus projetos aceitos e foram enquadradas no Recoop, renegociando dívidas com prazos de até 15 anos, ganhando fôlego para se reorganizar e crescer.

Uma década depois, os resultados do Recoop no Paraná são facilmente perceptíveis quando analisados os dados de faturamento, sobras e geração de empregos. "O Programa foi fundamental para a expansão do cooperativismo, conferindo mais estabilidade ao setor e possibilitando um planejamento de médio e longo prazo. Trouxe também enorme responsabilidade às cooperativas, com exigências de capacitação e monitoramento que geram melhores indicadores e mais credibilidade", conclui Koslovski.

"Sescoop é um divisor de águas do cooperativismo", diz Dalpasquale

"O Sescoop é um ‘divisor de águas' do cooperativismo, que permite a disponibilização de recurso voltados para a capacitação profissional e promoção social. Sem dúvida é uma conquista histórica e resultado de muito trabalho e ação", afirma Dejandir Dalpasquale, que presidiu a OCB de 1994 a 2001, abrangendo o período de negociação e implantação do Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo. Para o dirigente, as discussões em torno do Recoop e do Sescoop mostram a força da mobilização cooperativista e o alcance do debate político transparente e democrático, personificado nas mais de 50 reuniões que aconteceram entre 1997 e 1998. "Acreditamos num sonho e lutamos para concretizá-lo. Foi um momento especial na minha vida pública e agradeço a todos os companheiros que me acompanharam nessa ação vitoriosa que trouxe e ainda traz tantos benefícios para o cooperativismo brasileiro", desabafa.

Hoje aposentado, o dirigente vive em Florianópolis e trabalha na preparação de um livro no qual contará a sua trajetória no cooperativismo e na política. Gaúcho de Encantado, mudou-se ainda criança para Videira e depois Campos Novos, em Santa Catarina, onde cresceu e iniciou sua vida pública, tendo sido prefeito do município, deputado estadual, federal, secretário da Agricultura, presidente do Banco Nacional de Crédito Cooperativo (BNCC) e ministro da Agricultura no governo de Itamar Franco. "Tornei-me um cooperativista em 1969, quando era prefeito de Campos Novos e tentei viabilizar a constituição de uma cooperativa no município, o que aconteceu posteriormente, com a fundação da Coopercampos", lembra.

Para Dalpasquale, o cooperativismo hoje está melhor e mais fortalecido. "Ainda existem muitas diferenças entre as regiões brasileiras, mas entendo que houve muito desenvolvimento. Há uma visão mais vinculada aos princípios cooperativistas, que privilegia o coletivo e tenta fazer o bem à sociedade como um todo", conclui.

Saiba mais

• O Sescoop foi criado em 03 de setembro de 1998, por meio da Medida Provisória 1.715, que lançou o Programa de Revitalização de Cooperativas de Produção Agropecuária (Recoop)

• O Sescoop Nacional foi implantado pela OCB (Organização das Cooperativas Brasileiras) em 15 de junho de 1999

• O Sescoop Paraná foi implantado pela Ocepar em 21 de setembro de 1999, tendo sido o primeiro oficializado por organização estadual (Matéria publicada na revista Paraná Cooperativo/Agosto 2009/Edição especial 10 anos Sescoop/PR)

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