TRANSGÊNICOS I: Produtor está certo de que escolheu o melhor caminho

  • Artigos em destaque na home: Nenhum

Sete anos depois de trocar o cultivo da soja convencional pela transgênica, o agricultor Sílvio Ohse, de Cruz Alta (RS), está certo de que escolheu o melhor caminho. ''A mudança valeu a pena'', sustenta, satisfeito com a redução de custos com defensivos agrícolas e de perdas de grãos na colheita. ''Tecnicamente não houve aumento de produtividade, mas passamos a ter vantagem na guerra contra o inço (erva daninha)'', avalia. ''Isso se traduziu em menos gastos e colheitas maiores.'' Assim como a maioria dos produtores do Rio Grande do Sul, Ohse diz que o desejo de plantar soja transgênica nasceu da comparação com as lavouras argentinas na segunda metade da década passada. Ele lembra que ao visitar feiras e propriedades do outro lado da fronteira ouvia relatos e observava lavouras limpas, diferencial atribuído pelos argentinos ao grão geneticamente modificado, resistente ao herbicida glifosato, que, por sua vez, era muito eficiente contra o inço. Ao mesmo tempo, no lado brasileiro, os plantadores enfrentavam plantas invasoras com diversos tipos de herbicidas e resultados nem sempre satisfatórios. O cultivo de transgênicos estava proibido no Brasil, mas isso não impediu que os gaúchos se aproveitassem da facilidade para atravessar o Rio Uruguai com pequenas cargas de sementes. Em meio a extensas plantações convencionais, com inço, surgiam ilhas de soja limpa, transgênica.


Avaliação - A decisão de partir para a soja transgênica foi tomada entre 1999 e 2000 e foi definitiva. O primeiro plantio só não foi 100% transgênico porque as sementes disponíveis cobriam apenas 35% dos 450 hectares que cultiva. Ao avaliar os anos de plantação de soja transgênica, Ohse constata que o único custo que caiu visivelmente foi o de herbicidas, de R$ 100 para R$ 30 por hectare. Mas há outras vantagens que não foram computadas. A colheita em lavoura limpa de invasoras reduz a perda de grãos e aumenta a eficiência das máquinas. Desde que optou pela soja transgênica, Ohse ampliou de quatro para seis tratores e de duas para cinco colheitadeiras. Admite que o investimento foi impulsionado pelo resultado do novo cultivo, mas também por excelentes colheitas e cotações em 2002 e 2003. O panorama se alterou em 2004, quando a falta de chuva provocou perda de 20% sobre a média histórica da colheita, de 43 sacas de 60 quilos por hectare, e piorou em 2005, quando nova estiagem levou a uma quebra de 63% da safra. O preço do grão também caiu, de mais de R$ 50 pela saca em 2003 para os atuais R$ 22,70. Como estava capitalizado pelos bons resultados anteriores e plantou as últimas safras com recursos próprios, Ohse escapou do endividamento que preocupa a maioria dos produtores gaúchos. De 2000 a 2005, plantando na clandestinidade, Ohse se juntou a milhares de agricultores que pediam a legalização do cultivo em intermináveis reuniões com o governo e manifestações. ''Tivemos de fazer da soja transgênica no Brasil um fato consumado para conseguir o reconhecimento legal'', comenta Ohse. (Agência Estado)

Conteúdos Relacionados