TRIGO: Audiência pública discute problemas e soluções para o setor
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- Negociar com a Argentina uma política de exportação de trigo e farinha não prejudicial ao Brasil ou, no caso de insucesso, estabelecer tarifas compensatórias ou cotas de importação;
- Divulgar imediatamente a política para a safra de trigo 2007/2007, cujo plantio começou;
- Reajustar em 17,6% o preço mínimo que não é reajustado há quatro anos;
- Reduzir a taxa de juros de custeio aos produtores de 8,75% para 6,00% ao ano.
Essas foram as principais sugestões feitas pelos representantes do setor produtivo e das indústrias durante a audiência pública realizada ontem, em Brasília, pela Comissão de Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural, coordenada pelo deputado federal Moacir Micheletto. O Sistema OCB foi representado pelo engenheiro agrônomo Flávio Turra, gerente Técnico e Econômico da Ocepar, que discorreu sobre a situação atual da triticultura brasileira e apresentou sugestões para solucionar os problemas do setor.
Conjuntura – Depois de produzir mais de 6 milhões de toneladas de trigo na safra 1986/87, quase alcançando a auto-suficiência, a triticultura brasileira está quase no fundo do poço, embora o momento seja de bons preços no mercado internacional. O trigo hard (duro) americano chega ao Brasil ao custo de US$ 291,60 (R$ 550,00) por tonelada, mas o produtor brasileiro está recebendo dos moinhos entre R$ 480,00 a R$ 490,00. Essa diferença de preço é resultado da política de exportação adotada pelo governo da Argentina, que obriga os moinhos brasileiros a pressionar o mercado interno por um preço inferior. Flávio Turra explicou que a Argentina, para garantir o abastecimento interno, estabeleceu uma tarifa de 20% ao grão exportado, de 10% à farinha e pré-misturas e de 5% à pré-mistura em embalagens com 1 kg ou menos. E cancelou a emissão de novos registros para exportação de grão.
Farinha Argentina – Se é mais caro importar trigo do que farinha fica clara a falta de competitividade dos moinhos brasileiros. Assim, a farinha argentina está cada vez mais presente no mercado brasileiro, gerando desemprego na indústria nacional. A única forma dos moinhos buscarem um equilíbrio é através do pagamento do trigo dos produtores brasileiros por um valor inferior ao do mercado. “Por isso os preços internos estão defasados em relação ao que estariam não fosse essa situação com a comercialização da farinha Argentina” afirma Flávio Turra.
Propostas – Produzindo atualmente uma de suas menores safras, ou 2,5 milhões de toneladas, se o governo adotar alguma medidas de apoio ao setor essa produção poderá chegar a 4 milhões de toneladas na safra cujo plantio começou oficialmente no último dia 11 deste mês. Para isso os produtores pedem juros baixos, recursos de custeio (R$ 1,2 bilhão), implementação do seguro agrícola, reajuste do preço mínimo e apoio na comercialização através dos mecanismos já conhecidos, como leilões, TEC, contratos de opção de venda, tarifa compensatória. Para garantir, num futuro próximo, uma produção igual a 50% do consumo (10,3 milhões de toneladas), o setor pede ainda garantia de colocação do trigo nacional nos mercados do Norte e Nordeste brasileiro. A permissão para utilização da cabotagem de embarcações com bandeira estrangeira pode facilitar esse transporte, reduzindo custo.
A posição Bianchini – O secretário da Agricultura do Paraná, Valter Bianchini, participou da reunião e, em seu pronunciamento, destacou a importância da triticultura para o Estado e que a maioria dos produtores são agricultores familiares. Segundo Bianchini, o trigo tem papel fundamental, influindo positivamente com a redução dos custos de produção em até 15% para as culturas de verão plantadas em sucessão ao grão. Além disso, ajuda na racionalização no uso das estruturas de armazenagem e gera aproximadamente 150 mil empregos. Estudo feito pelo setor demonstra que a redução de 829 mil hectares na área cultivada em 2006 em relação a 2005 provocou a perda de aproximadamente 60 mil postos de trabalho no campo e nas cidades.
Participantes – Participaram como expositores da audiência pública as seguintes autoridades ou técnicos: Ivan João Guimarães Ramalho - secretário-executivo do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior - MDIC; Edilson Guimarães, secretário de Política Agrícola do Mapa; Embaixador Afonso Cardoso, diretor-geral do Departamento de Integração do MRE; Valter Bianchini, secretário da Agricultura e do Abastecimento do Paraná; Francisco Samuel Hosken, presidente da Associação Brasileira da Indústria do Trigo (Abitrigo); Flávio Turra, gerente técnico da Ocepar, representando a Organização das Cooperativas Brasileiras ; e Ivo Carlos Arnt Filho, da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). Vários deputados participaram da audiência.