TRIGO I: Argentina eleva impostos sobre exportações para 28%
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O governo da Argentina elevou a tarifa de exportação para trigo em grão de 20% para 28%. A medida causou revolta a representantes dos moinhos brasileiros, os principais clientes do trigo argentino. "Essa é uma péssima notícia para o Brasil, pois os moinhos vão comprar o produto mais caro e concorrer com a farinha de trigo da Argentina com subsídios de US$ 100 por tonelada", disse o vice-presidente do Sindicato da Indústria do Trigo (Sindustrigo), Christian Saigh.
Registros de exportação - A informação foi dada pelo ministro da economia da Argentina, Miguel Peirano, à imprensa local, um mês antes da presidente eleita, Cristina Kirchner, suceder seu marido na presidência, Néstor Kirchner. Existem boatos de que o governo daquele país também liberou os registros de exportação do trigo. Sem confirmar a informação, Saigh espera que tais licenças sejam aprovadas na próxima semana.
Soja e milho também têm alta - Além do cereal, foram elevadas as taxas para a soja, de 27,5% para 35%, e do milho, de 20% para 25%. Porém, o aumento para essas duas culturas não trará impacto negativos ao Brasil, por ele ser auto-suficiente na produção de ambos produtos. Além de garantir o abastecimento interno e controlar a inflação de alimentos, o governo argentino prevê uma arrecadação adicional de US$ 8,7 milhões no próximo ano por conta da elevação das tarifas e do aumento das vendas. O governo deve elevar ainda a tarifas para óleo de soja (hoje em 24%) e girassol, entre 8 e 10 pontos percentuais, segundo a Reuters.
Críticas - O vice-presidente do sindicato, Saigh criticou a decisão do governo daquele país de ter mantido em 10% a taxa de exportação para a farinha de trigo simultaneamente ao aumento de 8 pontos percentuais à tarifa do grão. "Isso vai tornar a farinha de trigo lá mais competitiva que a brasileira", declara Saighh, também diretor-executivo da Moinho Santa Clara. "Os moinhos argentinos compram a matéria-prima a US$ 200 a tonelada e exportam a farinha com imposto de 10%", complementa o executivo.
Custo adicional - Tal medida, calcula Saigh, deve provocar um custo adicional para o Brasil de US$ 1,6 milhão por ano, levando-se em conta a cotação de ontem a US$ 300 a tonelada. Ele estima que os moinhos nacionais devem comprar 7 milhões de toneladas daquele país, das quais um milhão já estão contratadas para atender a demanda interna - de 10,5 milhões de toneladas anuais. A produção interna está prevista em 3,5 milhões de toneladas. "Além do preço internacional mais caro, os moinhos vão pagar 8% mais, e vai impactar diretamente no custo do produto".
Moinhos querem intervenção - O analista da Safras & Mercado, Élcio Bento, concorda que a elevação da taxa para o trigo em grão da Argentina deve elevar o custo de importação principalmente dos moinhos nacionais. "Vai complicar ainda mais a situação das indústrias brasileiras, pois a farinha importada entrará com preço mais baixo no Brasil em detrimento à nacional", declara. Bento calcula que o trigo em grão com taxa de 28% e a da farinha mantida em 10% resultará em um subsídio de 18% à farinha importada. O diretor do Sindustrigo, Saigh, voltou a defender a intervenção do governo brasileiro para impedir a entrada da farinha subsidiada do país vizinho. "Esperamos uma reação do governo para proteger a indústria local". (Gazeta Mercantil)