ALIMENTOS: Crise mundial seguirá por 4 ou 6 anos, diz Roberto Rodrigues

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Os preços mundiais dos alimentos não deverão recuar dentro dos próximos quatro a seis anos, até que a produção global de grãos se recupere para atender à nova demanda dos países emergentes, afirmou o ex-ministro da Agricultura do Brasil Roberto Rodrigues. A adoção de produtos como milho e trigo na produção de biocombustíveis tem sido apontada como a principal razão para a disparada dos preços dos alimentos, elevação essa que tem gerado protestos e distúrbios e levado governos a impor restrições a exportações e controle de preços.

Culpa não é dos biocombustíveis - Mas o ex-ministro brasileiro, um produtor de cana-de-açúcar, afirmou à Reuters que, embora os biocombustíveis contribuam para a inflação de alimentos, eles têm sido culpados injustamente. Ele argumentou que a alta dos preços tem sido causada por uma demanda "explosiva" de mercados emergentes como a China e Índia. "É o equilíbrio entre a oferta e a demanda que irá resolver esse problema que nós temos hoje. Mas a solução não virá no curto prazo", afirmou Rodrigues. "Isso poderá levar quatro, cinco, seis anos."

Crescimento - A demanda cresce 4,8 por cento ao ano em média na Ásia, África e nos países da América Latina, enquanto está aumentando 2,6 por cento ao ano nos países desenvolvidos, afirmou ele. Além disso, a produção foi severamente atingida pela seca no ano passado na Austrália, na Europa e na América do Sul. Os estoques globais de milho, arroz, trigo têm caído dramaticamente, para níveis 40 a 60 por cento mais baixos na comparação com sete anos atrás, disse Rodrigues. A comida está passando por uma alta de preços semelhante àquela registrada em energia e metais nos últimos anos, devido ao crescimento da renda disponível na Ásia e em outros mercados emergentes. Mas um aumento na produção de petróleo e de minério de ferro pode levar dez anos.

Difamação - Como um dos coordenadores da Comissão Interamericana de Etanol, Rodrigues afirmou que companhias de alimentos e petróleo podem estar trabalhando conjuntamente para afirmar que o álcool combustível é a razão principal da inflação alimentícia e do déficit na oferta. "Parece que há um esforço orquestrado, liderado por parte do setor de alimentos dos Estados Unidos e pela indústria do petróleo, especialmente na Europa", afirmou ele. "E isso está contaminando o álcool de cana, que não tem nada a ver com isso. Ele não compete com alimentos."

Expansão em áreas degradadas - Rodrigues afirmou que o plantio de cana, que tem se expandido sobre áreas de pastagens degradadas, na verdade impulsiona o plantio de grãos no Brasil, que se beneficia da rotação de cultura. Não há déficit de açúcar no mundo, mas a imagem do álcool brasileiro já foi manchada pela inflação de alimentos, disse. "A pressão tem sido forte, mas eu não acho que ela irá destruir o desenvolvimento (do mercado de biocombustíveis). Vai diminuir o ritmo do processo, na verdade, já diminuiu."

Energia - Além do maior consumo de alimentos em países em desenvolvimento, a elevação dos preços do petróleo está aumentando os custos com o transporte na agricultura e afetando os preços dos fertilizantes. Para alguns produtos, eles mais que dobraram desde o ano passado. Mas a produção de milho, soja e trigo vai crescer à medida em que os preços estimularem o plantio em todo o mundo. Apesar dos problemas, a expansão dos biocombustíveis deve continuar num momento em que aumentam as preocupações em torno da segurança energética no mundo, afirmou. "A segurança energética é tão relevante nos dias de hoje quanto a segurança alimentar foi no século 20", declarou Rodrigues. "Mesmo se o petróleo recuar para 40 dólares, o debate agora é segurança na oferta de energia." (Reuters)

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