CAMINHOS DO CAMPO: Fertilizantes elevam custos de produção
- Artigos em destaque na home: Nenhum
Os produtores das cinco regiões percorridas pela Expedição Caminhos do Campo, projeto realizado pela Gazeta do Povo, com o apoio técnico do Sistema Ocepar e Faep, reclamam de aumento nos custos de produção. Eles afirmam que os fertilizantes estão sofrendo reajustes contínuos e devem consumir parte do lucro desta safra. O fenômeno desafia a lógica do mercado, uma vez que cerca de 60% da matéria-prima do produto é importada e o dólar sofreu desvalorização diante do real no período. "O adubo está sendo vendido por preços até 30% mais altos que os da safra passada", afirma o produtor e líder sindical de Pato Branco, Eucir Brocco.
Investimento em tecnologia - A Coamo, de Campo Mourão, fez as contas e chegou à conclusão que o custo direto de produção para a safra em curso é 7,9% maior na soja e 18% no milho. "O porcentual mostra um aumento médio, que pode variar de acordo com a tecnologia empregada", explica Nei Cesconetto, gerente técnico da cooperativa. O desembolso com insumos e operações de máquinas foi de R$ 735 para R$ 793 na soja e de R$ 1.318 para R$ 1.563 no milho por hectare (ha). O principal componente que provocou a elevação foram os fertilizantes, que representam de 15% a 20% do custo na oleaginosa e até 40% no cereal.
Variação - Na lavoura de Jaime Neitzke, cooperado da Coamo, a variação no custo foi ainda maior. Ele diz que gastou de 25% a 30% a mais por hectare de milho. A explicação está na tecnologia aplicada, para produzir acima de 11 mil quilos/ha. Na safra passada ele já registrou uma excelente média, com quase 10 mil quilos. Apesar do custo monetário ser maior, Cesconetto destaca que na relação em sacas por hectare a rentabilidade do produtor será melhor. As cotações do milho e da soja deixam a conta positiva, mesmo com o aumento no custo de produção.
Aumento - As estatísticas oficiais confirmam aumento de até 26%, mas indicam que, considerando toda a cesta de produtos necessária ao cultivo, os custos não tiveram aumento significativo. Esses índices, no entanto, refletem o mercado até agosto. Em setembro, segundo os produtores, houve novos reajustes. Os números viram cifras astronômicos nas contas das cooperativas. A C.Vale, com sede em Palotina (Oeste), informa que seus 5,5 mil associados vão gastar R$ 4 milhões a mais que no ano passado. Segundo o engenheiro agrônomo Dirceu Fruet, supervisor do Departamento Agronômico, os reajustes afetam tanto a soja quanto o milho. Ele afirma que, considerando a queda nos preços de alguns agrotóxicos, a despesa extra fica em R$ 2,8 milhões.
Motivos - As justificativas das indústrias vão da dificuldade na produção de matéria-prima por fatores climáticos à empolgação do setor produtivo, que ampliou a demanda por insumos. A lei da oferta e procura é o argumento mais aceito pelos órgãos oficiais brasileiros. No entanto, o caso não foi investigado. "Se a perspectiva dos preços dos grãos não fosse tão favorável, a pressão em relação ao reajuste dos preços seria maior e a discussão talvez fosse adiante", afirma a agrônoma do Departamento de Economia Rural (Deral), da Secretaria Estadual da Agricultura, Margorete Demarchi. "Os reajustes são pouco significativos", avalia o gerente de Custos e Produção da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), Asdrúbal de Carvalho Jacobina.
Diesel - Além da elevação nos custos dos fertilizantes, os produtores afirmam que outros fatores tendem a elevar seus gastos. Um deles é aumento previsto para o preço do diesel a partir de janeiro. O produto terá adição de 2% de biodiesel, mas ainda não há matéria-prima para produção desse combustível nos mesmos patamares de preços do petróleo. A própria soja deve ser usada como alternativa enquanto são desenvolvidas outras fontes de óleo vegetal. Com a oleaginosa em alta no mercado, a expectativa é de aumento no diesel, afirma Amélio Dall'Agnol, especialista no assunto da Embrapa Soja. (Gazeta do Povo)