CRÉDITO: Com a força de associação, juros de 1,5% na Serra Gaúcha
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Organizações públicas que surgem com objetivo de facilitar a concessão de crédito popular não são novidades no Brasil nem nos países em desenvolvimento. Novidade parece ser o grande sucesso da Associação de Garantia de Crédito da Serra Gaúcha (AGC), fundada por 350 empresários em dezembro de 2003. No Dia 27/06, o metalúrgico e presidente da AGC, Cenair Gomes da Silva, empolgou dirigentes e técnicos das cooperativas de crédito reunidos na Ocepar para discutir assuntos de interesse do setor. Ele mostrou que a sociedade organizada pode se defender da fome espoliante do sistema financeiro, inclusive pressionando para baixar a taxa de juros, beneficiando empresários e a comunidade.
Finalidade - A associação surgiu para viabilizar o acesso ao crédito às micro e pequenas empresas da região da serra e promover a dinamização do desenvolvimento econômico e social. Além de prestar garantias, visando diminuir o risco dos negócios, a AGC auxilia na obtenção de informações gerenciais, qualificação e suporte a projetos. Tem como instituições parceiras a Prefeitura de Caxias do Sul, o Governo do Estado do Rio Grande do Sul, o Sebrae, a Câmara da Indústria, Comércio e Serviços de Caxias do Sul, o Banco Interamericano de Desenvolvimento e o Fundo Multilateral de Investimentos. Atua em convênio com três sistemas financeiros: Sicredi, BRDE e Banco do Brasil.
Benefícios – Embora tenha surgido para dar garantias ao crédito dos micro e pequenos empresários, a AGC alcançou objetivos mais amplos, democratizando o crédito e reduzindo as taxas de juros cobradas das empresas associadas. Os bancos se beneficiam com concessão de garantias líquidas às operações realizadas, diminuindo o risco de inadimplência. As comunidades ganham com a geração de emprego e renda graças à saúde financeira das associadas. Para se beneficiar, o empresário precisa se associar, pagando uma taxa variável de acordo com o faturamento da empresa, de R$ 500,00 a R$ 2.500,00. A associação garante aos agentes financeiros 65% do valor dos empréstimos de capital de giro e 50% em operações de investimentos.
A diferença – Nada melhor que um exemplo para deixar claro o poder de transformação exercido pela AGC. Cenair Gomes da Silva disse que empresa pagava R$ 2.800,00 por mês de juros por um empréstimo bancário. Com a intervenção da associação, essa empresa obteve um empréstimo de R$ 40 mil no Sicredi para pagar a dívida bancária. Ao Sicredi passou a pagar R$ 2.600,00 ao mês entre juros e capital, passando a ter um horizonte claro de liquidez. “Tem que parar de pagar juro alto. Não queremos empresa escrava. Queremos empresas que se desenvolvam”, afirma o presidente. A AGC atua de forma que nenhuma associada pague juros superiores a 1,5% ao mês, objetivo alcançado porque a inadimplência é zero. Acenir explicou que a instituição financeira conveniada paga quase 1% de juros na captação e empresta a 1,5% às empresas associadas. Como resultado da atuação da associação, de maio até junho as empresas associadas economizaram R$ 930 mil em juros.
Filosofia e mudança – Fazendo afirmações como “Quando Deus inventou o dinheiro o diabo inventou o banco” e “se juntar o bicho (banco) some”, o metalúrgico manteve os dirigentes das cooperativas de crédito atentos à sua fala e não poupou críticas os mal sucedidos bancos públicos que emprestam para empresários que utilizam do crédito para atividades de ostentação e lazer (carros, viagens, etc) e não em negócios produtivos. E fez o “mea culpa” lembrando que levava até presente ao gerente do banco onde fez empréstimo. “Ele estava quebrando minha empresa e eu levava presente para ele”, brincou, lembrando que o empresário tem que considerar, na hora da promessa de juro barato do banco, os custos das taxas de abertura de crédito, seguros e outros itens.
Mover montanhas – “Montar uma associação de garantia de crédito é fácil”, frisou. Os estatutos e orientações estão prontos – basta copiar. “Pegue um contador, chame o prefeito”, disse, insinuando a facilidade de uma ação social com caráter econômico que emagrece o lucro dos bancos e engorda o das empresas em benefício da comunidade. É preciso, para isso, ter visão social, objetivando o interesse das micro, pequenas e médias empresas. E se adaptar aos custos, pagando salários reais do mercado e não de executivos multinacionais. Criticou o alto custo da hora-aula dos instrutores do Sebrae que não trabalham aos sábados, único horário que o pequeno empresário dispõe para treinar seus funcionários. Na AGC, para reduzir custos operacionais trocou uma executiva indicada por parceiros, que custava US$ 70 mil ao ano, por um diretor cuja remuneração mensal é de R$ 5.500,00, adequada à realidade do negócio. Veja mais em: www.agcserra.org.br.