CRÉDITO RURAL: Setor rural terá mais R$ 2,5 bilhões

  • Artigos em destaque na home: Nenhum

Aumentar a oferta de crédito rural em R$ 2,5 bilhões e usar de R$ 3 bilhões a R$ 4 bilhões para a estimular a construção civil são as mais novas iniciativas do governo para combater os efeitos da crise financeira internacional sobre a atividade econômica brasileira.  O ministro da Fazenda, Guido Mantega, e o presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles, anunciaram ontem (20/10), em São Paulo, o aumento de 65% para 75% do direcionamento dos recursos depositados em poupança rural para crédito para o setor agrícola. 

Construção civil - Outra medida, que deverá ser definida nos próximos dias, é um programa de apoio do governo ao setor de construção.  Segundo disse o presidente do BNDES, Luciano Coutinho, no início da noite, ao participar de evento do setor da construção, os recursos serão repassados via financiamento do BNDES e Caixa Econômica Federal.  Adicionalmente, Mantega e Meirelles anunciaram que Banco do Brasil e Caixa serão estimulados a aumentar a oferta de crédito ao consumo e capital de giro para as empresas.  O diagnóstico do governo é que a crise internacional reduziu as alternativas de financiamento para empresas de construção civil, afetando principalmente o capital de giro para tocar os empreendimentos já iniciados. 

Reflexos da crise - Até 2007, o mercado de capitais viveu uma onda de venda de ações pelas incorporadoras. Boa parte dos recursos levantados nessas operações foi direcionada à aquisição de terrenos para o lançamento de empreendimentos. A expectativa das empresas era, num segundo momento, fazer novas ofertas de ações para financiar as obras.  A crise internacional afetou o setor de construção civil, fazendo com que algumas empresas perdessem mais de 90% de seu valor de mercado. Para o governo, mesmo num cenário mais adverso, a maior parte das empresas vai continuar a operar. Mas, existe um grupo reduzido, algo entre quatro ou seis incorporadoras, que pode enfrentar problemas de caixa para terminar os empreendimentos já iniciados. 

Desconfiança - As dificuldades vividas por essa parcela do mercado, na visão de especialistas na área, em tese não teria força para virar uma crise sistêmica. Mas poderia estimular a desconfiança do público em relação a empresas sólidas do setor, reduzindo o ritmo de expansão da construção civil. Para evitar o contágio, diz a fonte, seria bom o governo ter um plano de ação definido, para agir com rapidez caso o pior cenário se concretize.  Um especialista diz que a crise levou a uma atitude mais cautelosa dos bancos privados na concessão de empréstimos. Mas é improvável que isso leve a um corte nos financiamentos dos empreendimentos já em andamento. Não faria sentido do ponto de vista jurídico porque os contratos prevêem a liberação dos recursos ao longo da construção. E, do ponto de vista econômico, faria menos sentido ainda, porque uma forma de mitigar riscos no setor de construção civil é justamente terminar as obras. Quando a obra termina, os bancos concedem financiamentos aos mutuários finais e recebem das incorporadoras. 

Caixa Econômica Federal - A visão desse especialista é que, no pior dos cenários, a crise internacional não levaria a uma suspensão dos financiamentos aos mutuários, mas apenas a uma postura mais defensiva. Os bancos, por exemplo, poderiam passar a oferecer financiamentos que cobrem 80% dos imóveis e não 100%.  Nesse cenário, a Caixa Econômica Federal continuaria emprestando, com a força de uma instituição que responde por cerca de um terço dos empréstimos com recursos da poupança, ou 50% dos empréstimos totais, incluindo o FGTS. A intenção da Caixa é expandir entre 20% e 25% sua carteira de empréstimos em 2009 em relação aos R$ 23 bilhões aplicados neste ano. O mercado também seria puxado pela competição do Banco do Brasil, que inaugurou recentemente sua operação no crédito imobiliário e pretende ter uma carteira de R$ 3 bilhões até o fim de 2009. 

Sem mudanças - Segundo Bernadete Pinheiro Coury, superintendente nacional de Habitação da Caixa Econômica Federal, a entidade não elevará os juros, nem alterará os prazos do financiamento imobiliário. "Não vamos reduzir as taxas do crédito que usa os recursos do FGTS e nem o da poupança", afirmou ontem em evento sobre o setor de construção em São Paulo. A CEF já foi responsável por 90% da concessão de crédito no setor. Com a atuação crescente dos outros bancos, hoje responde por 50% do volume total, mas ainda continua sendo o principal agente de fomento do setor.  Bernadete classifica como positiva a atitude de cautela que vem sendo adotada pelo setor, como a redução de lançamentos. "Seria até irresponsável não imaginar uma redução da velocidade da oferta e da demanda." As taxas de financiamento à produção - concedida às empresas - também não devem ser alteradas. 

Banco Real - José Manoel Lopes, superintendente de crédito imobiliário do banco Santander, também disse que o grupo, incluindo o banco Real, manterá as taxas do crédito imobiliário. "Esse é o grande mercado de crédito e ganhou importância estratégica no banco, com reporte direto à presidência", afirmou. Na opinião de Lopes, o mercado de crédito imobiliário no Brasil está só começando e não será afetado por uma eventual crise do setor. "Só quatro de cada dez apartamentos lançados são financiados. Há espaço para o crédito imobiliário crescer sem que haja crescimento do setor", completa. Lopes afirma que a captação da poupança continua crescendo e que não há previsão de falta de funding para o setor no curto e médio prazo, como chegou a se falar. (Valor Online)

Conteúdos Relacionados