ESTUDO DA OCEPAR: Agronegócio perde competitividade com queda do dólar

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Responsável por quase 40% das exportações brasileiras, o agronegócio, em função da queda dólar em relação ao real, vem sentindo uma acentuada perda de competitividade e rentabilidade, principalmente nos produtos com maior presença no mercado internacional. Isso é o que revela um estudo da Gerência Técnica e Econômica (Getec) da Organização das Cooperativas do Paraná (Ocepar), alertando ainda que, se não forem tomadas medidas na área de câmbio, a valorização do real em relação à moeda americana terá efeitos negativos devastadores para o agronegócio e, por conseqüência, para a própria economia do país. Segundo a Ocepar, por enquanto, um único fator está sustentando a frágil rentabilidade dos produtores: os preços das commodities, que estão acima da média histórica. O estudo mostra que a demanda crescente por milho e soja pressionou os preços no mercado e lembra, ainda, que no caso da soja o valor da tonelada está sendo negociado em média a 270 dólares (FOB Paranaguá), uma alta de 18,5% em relação à média histórica de 227 dólares e de 20% em relação ao mesmo período do ano passado.

Refluxo - No entanto, para o gerente técnico e econômico do Sistema Ocepar, Flavio Turra, com a contínua desvalorização do dólar, que segue em perigosa trajetória de baixa, as perspectivas para o agronegócio brasileiro são ameaçadoras. "Em breve, o refluxo do mercado, com o provável aumento da oferta mundial, fará os preços das commodities voltarem aos patamares históricos. Quando isso acontecer, os produtores perderão por completo a sua rentabilidade", prevê Turra.

Soja - O complexo soja, com cerca de 70% negociado em contratos de exportação, é um dos exemplos de como o dólar baixo começa a provocar uma acentuada perda de competividade e rentabilidade da cadeia produtiva do agronegócio brasileiro. Vale lembrar que o Brasil destina 40% de sua produção de soja em grão para exportação. As vendas externas absorvem respectivamente 60% e 40% da produção de farelo de soja e óleo de soja. O trabalho da Getec revela que uma desvalorização cambial de 10% reduz os custos de produção da soja em 5,3%. Em contrapartida, provoca uma queda de 9,1% nos preços. "Considerando o valor da soja em patamares históricos, a taxa de câmbio de equilíbrio necessária seria de 2,21 reais, o que amenizaria as perdas para os produtores", afirma Turra.

Outros produtos - O estudo mostra o impacto do câmbio nos preços da soja, milho e trigo. Uma variação de 1% na taxa de câmbio causa variação de 0,91% no preço da soja, de 0,78% no preço do milho e de 0,87% no trigo. O feijão é a única cultura estudada que não sofre influência da variação cambial, já que sua produção está voltada exclusivamente para o mercado interno. A Ocepar lembra que o governo federal já anunciou que estuda um pacote de medidas para amenizar os impactos negativos do câmbio sobre os setores exportadores. Nada indica mudanças na condução da política econômica, o que exige uma redução dos custos de produção para manter o equilíbrio e a rentabilidade do agronegócio. "As cooperativas paranaenses exportaram 850 milhões de dólares em 2006. Todo o intenso trabalho de conquistas de novos mercados e de investimentos em melhoria e adequação produtiva está ameaçado. Aliás, alguns mercados conquistados a duras penas já estão sendo perdidos, como é o caso do queijo que a Frimesa exportava para Japão e Coréia do Sul. É preciso agir imediatamente para impedir prejuízos a um setor fundamental para a economia paranaense e brasileira", alerta o presidente do Sistema Ocepar, João Paulo Koslovski. "Propomos um conjunto de medidas visando a manutenção da competitividade e renda dos produtores no médio e longo prazo", explica.

Propostas - Entre as propostas da Ocepar para mudar esse quadro estão a redução da taxa Selic e do juro nos financiamentos de crédito e investimento rural; liberação de agroquímicos agrícolas com registro em um país do Mercosul; ressarcimento de impostos para produtos agrícolas exportáveis; redução da alíquota da CPMF; diminuição dos encargos tributários sobre folha de pagamento e ampliação de investimentos em infra-estrutura. "Também pleiteamos a criação de um instrumento de apoio à comercialização e que garanta uma renda mínima ao produtor. E reiteramos a necessidade de desenvolver um programa de renegociação das dívidas contraídas pelos produtores ao longo de três anos de crise e perdas no campo", conclui Koslovski. (Agência Ansa Latina)

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