FÓRUM DOS PRESIDENTES: Economia, reforma tributária e intercooperação
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Reunir os presidentes das cooperativas do Paraná para debater temas atuais e importantes para a tomada de decisões é uma das propostas do Sistema Ocepar e que, na noite de segunda-feira (12/05), mais uma vez se concretizou com a realização do Fórum dos Presidentes. Realizado no auditório do Sistema Ocepar, em Curitiba, o Fórum tem por objetivo propiciar informações e promover discussões sobre o cenário econômico e político nacional. "A finalidade é analisar os fatos que estão ocorrendo e discutir os reflexos para as sociedades cooperativas", comenta o presidenFte do Sistema Ocepar, João Paulo Koslovski.
Hauly defende o fim do ICMS - As discussões do Fórum começaram com um painel sobre Reforma Tributária e que teve a participação do deputado federal Luiz Carlos Hauly (PSDB/PR). Membro titular da Comissão Especial de Reforma Tributária, o parlamentar defendeu um sistema tributário simplificado e concentrado em 10 itens da economia. Também explicou sua proposta para modificar a atual estrutura de tributos do país, que considerou ineficaz e "caótica". "Precisamos alcançar um modelo tributário simplificado, que teria no meu projeto um imposto de renda de base larga, progressivo, um imposto seletivo estadual e federal de 10 itens da economia, isentando 400 mil itens, além de um imposto de movimentação financeira, substituindo a contribuição previdenciária patronal. Nós deixaríamos neutra a tributação da folha de pagamento patronal e manteríamos as contribuições sobre a propriedade. Esse é um sistema racional, enxuto, que extinguiria o ICMS, o IPI, o IOF, ISS, PIS e Cofins", disse.
Dificuldade - Segundo Hauly, o modelo atual causa concentração de renda e dificulta o desenvolvimento econômico. "Um modelo tributário enxuto e racional poderia fazer o Brasil crescer 10% ao ano, distribuindo renda e riquezas", afirmou. "Setores como energia, combustível, cigarros e bebidas já respondem pela maior parte dos tributos e, com um arranjo adequado podem contribuir para que a maioria das atividades econômicas seja isenta de encargos". De acordo com o parlamentar, as negociações em torno das propostas de reforma tributária exigem que os setores produtivos estejam presentes e atentos e enfatizou a importância da agropecuária para a economia brasileira. "O agronegócio é responsável central do sucesso da política macroeconômica do Brasil porque o saldo da balança comercial desses últimos 15 anos é que tem sustentado o Real e a estabilidade da economia", diz.
Dólares - Para Hauly, com o grau de investimento, uma "enxurrada" de dólares e investimentos virá para o Brasil, e o governo precisa ter uma política que incentive os empreendimentos do país, sobretudo as cooperativas. "O cooperativismo é a única forma de enfrentar o grande capital, o monopólio, o oligopólio, os cartéis e as grandes corporações internacionais. Cooperativismo forte é país forte", concluiu.
Economia mundial - Na manhã de terça-feira (13/05), os trabalhos iniciaram com a participação do jornalista econômico da rádio CBN e do canal de TV Globo News, Carlos Alberto Sardenberg, que ministrou a palestra "Surfando nas Crises com Grau de Investimentos". "O objetivo é mostrar o que houve na economia mundial dos últimos e anos e qual foi a reação do Brasil", disse o jornalista. O crescimento médio de 5% da economia mundial nos últimos cinco anos é, na opinião do jornalista, algo extraodinário. "Foi uma situação nunca vivida antes, porque o crescimento foi generalizado e não, como já ocorreu, apenas de alguns países".
Quem puxou a onda - Enquanto o Brasil cresceu 5,4% em 2007, mais que os Estados Unidos (3%) e que o Japão (2%), a economia da China superou todos os índices e cresceu 11,5% no ano passado, mais que a Índia que cresceu 9,2% em 2007. "Sem dúvida, a China está se mostrando a nova potência mundial", disse Sardenberg. Este bom momento da economia mundial é, segundo o jornalista, resultado de três fatores: avanços da tecnologia de informação, que permite ganhos de produtividade, uso melhor do capital e da mão de obra existente; o fim do socialismo que abriu novos mercados consumidores; e, obviamente, a China que se apresenta tanto como grande importadora quanto exportadora. "Apenas para citar um exemplo, a China consome metade do cimento produzido no mundo", conta Sardenberg. O Brasil, com sua tradição na produção de alimentos, se deu bem nesse cenário de crescimento mundial. "O país tinha os produtos e estava preparado para aproveitar essa onda boa", disse.
É o fim do mundo - Os países emergentes enriqueceram, o crescimento da demanda puxou os preços das commodities agrícolas e metálicas, a situação melhorou, inclusive para o Brasil, mas agora o mundo todo vive um momento de dúvida e reflexão em relação ao que vai acontecer diante das ameaças que estão surgindo. "As perspectivas para este ano e também para 2009 é de desaceleração na economia, em função da crise financeira e desaceleração dos Estados Unidos e no Japão, do aquecimento e inflação, e da crise nos alimentos. A questão que vem à tona é como tudo isso vai terminar? Os alimentos ficarão escassos e caros para sempre? Será que é o fim do mundo?", questiona. A resposta, na opinião do jornalista, é "não, o mundo não vai acabar, basta lembrar o que aconteceu com a crise ocorrida na década de 70".
Exemplo da década de 70 - "A situação na época era mais dramática, inclusive com previsões de guerra mundial por falta de alimentos, mas o mundo superou a situação. O que aconteceu foi que, em função dos bons preços dos alimentos e do petróleo, a produção aumentou. É o que pode acontecer hoje, mas com a ciência dos países de que isso existe investimentos. O Brasil, por exemplo, tem capacidade para aumentar sua produção agrícola, assim como outros países também", afirmou.
Economia melhorou, mas... - O bom momento vivido pela economia brasileira não é conseqüência das medidas adotadas pelo governo atual, mas de ajuste realizados nos últimos 20 anos, especialmente durante o Plano Real, que permitiu o controle da inflação, a estabilização da moeda e a retomada do desenvolvimento, afirmou Sardenberg. A redução fantástica da dívida externa, que chegou a 45,9% do PIB, para 16% do PIB em 2007, é conseqüência da valorização do real em relação ao dólar, uma vez que a dívida tem o dólar como base. "A melhoria das exportações, que produziu excedentes comerciais, permitiu ao governo comprar dólares para abater essa dívida externa", afirmou Sardenberg.
Posição desconfortável - No entanto, o Brasil ainda precisa fazer o seu dever de casa para merecer a maior confiança dos investidores internacionais, pois ainda está aquém do nível ideal dos principais índices ideais que medem a saúde da economia. Comparado aos países emergentes, Brasil ocupa posições desconfortáveis, mostrou Carlos Alberto Sardenberg. A dívida pública líquida, por exemplo, é de 43% do PIB para um ideal de 30%; a dívida bruta é de 65% do PIB para um ideal de 38%; a carga tributária é de 37% para um ideal de 22%; os gastos com previdência chegam a 13% para um ideal de 6%. Os juros também continuam altos e os investimentos ainda estão em 17% do PIB, contra 22% entre os países emergentes.
Risco Brasil - Apesar de todas as melhorias obtidas no desempenho da sua economia, o Brasil continua longe de ser atrativo a novos investimentos, ocupando a desconfortável 121ª posição entre os países, ficando atrás inclusive da Argentina (109ª posição). Essa posição foi obtida através da constatação de uma série de dificuldades burocráticas, de crédito e tributárias enfrentadas pelas empresas que desejam se instalar no Brasil. No item pagamento de impostos, o Brasil figura em 137ª posição. Evidentemente, mostrou Sardenberg, na hora de investir, as empresas preferem países mais atrativos, como Cingapura, que ocupa a 1ª posição em facilidades, seguido por Nova Zelândia (2ª posição), EUA (3ª) e Austrália (12ª) e Cline (33ª).
Baixa capacidade de investimentos - Sardemberg afirmou que falta ao governo atual capacidade de investimentos. Considerou pífio o programa de crescimento industrial anunciado ontem (12/05) pelo governo, justificando que o governo tira muito de todos (tributos) e devolve um pouco para alguns setores. "Cadê a grande obra desse governo?", perguntou, citando as deficiências no sistema de transporte. Disse que a transposição do rio São Francisco, que seria a grande obra do governo Lula, está indo a passos muito lentos. Para sardenberg, o governo não consegue adotar uma política que permita a realização de grandes investimentos em obras. "Não se vê a mobilização de capital", frisou.
Intercooperação - O Fórum foi encerrado com a realização de um painel sobre as estratégias de atuação para o fortalecimento do cooperativismo no Paraná, coordenado pelo presidente da entidade, João Paulo Koslovski. Participaram do debate os presidentes, Orestes Barrozo Medeiros Pullin, da Federação Unimed, Luiz Humberto de Souza Daniel, da Uniodonto Paraná e Curitiba, Luiz Roberto Baggio, da Bom Jesus (Lapa), José Otaviano de Oliveira Ribeiro, da Cofercatu (Porecatu) e Nelson Canan, da Cootrasul (São João) e coordenado do ramo transporte. Durante mais de uma hora dirigentes falaram de suas experiências de intercooperação e também debateram sobre a necessidade de aperfeiçoar o relacionamento e desenvolver projetos em parceria, de interesse comum. Ao final dos debates o presidente apresentou um resumo das propostas apresentadas pelos dirigentes e colocou em votação um cronograma de atividades a serem coordenadas pela Ocepar no sentido de fortalecer os processos de intercooperação já existentes, promover novas parcerias e resolver os principais entraves existentes na atualidade. A proposta foi aprovada por unanimidade dos presentes.
Mulheres - Durante o evento, Koslovski fez questão de ressaltar a presença de duas lideranças femininas de cooperativas paranaenses e que acompanharam os dois dias do evento: Iara Diná Folador, presidente da Aerotaxi e Cacilda de Araújo Botelho, presidente da Cooperativa de Trabalhadores Autônomos de Londrina - Cooperdol. Para Cacilda, que pela primeira vez participa de um evento do Sistema Ocepar, "o evento foi muito proveitoso. As informações sobre economia e política dão uma visão geral do que acontece no Brasil e no mundo. Além disso, os debates sobre intercooperação aproximam as cooperativas", afirmou. Já a presidente da Cooperativa Aerotaxi, Iara Thomaz, elogiou a organização do evento como um todo, em especial, a escolha dos palestrantes. "Momentos como esse ajudam a estreitar relacionamentos e são uma oportunidade para trocar experiências e ampliar o conhecimento. Também acho positiva a forma democrática como a Ocepar conduz as discussões, dando oportunidade para que todos manifestem suas opiniões", ressalta.