FÓRUM II: Cenário mundial de escassez e de soluções complexas

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O cenário é amplo e complexo: altos preços do petróleo, destinação de 83 milhões de toneladas do milho americano para produção de etanol, estiagem na região produtora de trigo da Austrália, problemas climáticos em regiões produtoras de arroz na Ásia e aumento da renda na China e Índia. A somatória desses fatores vem causando escassez de alimentos, que provoca pressão na demanda e aumento nos preços. Escassez que, por sua vez, provoca atitudes de pânico por parte dos consumidores e ações de defesa dos governos, que restringem exportações. "Não parece haver soluções viáveis a curto prazo", avalia o secretário de Relações Internacionais do Ministério da Agricultura, Célio Brovino Porto, que na manhã de hoje (25/04) proferiu palestra no I Fórum Financeiro e de Mercado promovido pelo Sistema Ocepar/Sescoop-PR, em Curitiba.

O alimento vira combustível - Embora haja problemas com o abastecimento de arroz e alta inesperada no preço do trigo, o etanol americano surge como o maior vilão nesse cenário de escassez. Para reduzir a sua dependência no petróleo, os americanos destinaram, nesta safra, 83 milhões de toneladas de milho para a produção de etanol. E em 2008 destinarão 104 milhões de toneladas. Além disso, os europeus estão transformando 8 milhões de toneladas de oleaginosas em combustíveis; os EUA mais 2 milhões de toneladas. E isso ocorre justamente num momento de aumento da demanda por alimentos na Ásia. A destinação de mais de 10% da safra mundial de milho - que é de 770 milhões de toneladas - para produzir etanol é reconhecida como importante causa da crise alimentar. "A solução a curto prazo seria os EUA reverem isso, o que não deve ocorrer", estima Célio Porto.

A escassez e o pânico - Pior que a escassez de alimentos é o pânico que está ocorrendo no arroz, segundo cereal mais produzido no mundo, com 620 milhões de toneladas. Desse total, apenas 5% da safra participa do comércio mundial, indicando que os produtores destinam a maior parte ao consumo interno. Na iminência da escassez, os governos dos países exportadores restringem as exportações e os consumidores aumentam as compras, provocando a retenção dos estoques pelos produtores e comerciantes. O pânico aumenta. "E o arroz, como o milho, teve safra recorde", afirma o secretário de Relações Internacionais do Mapa, Célio Porto. Aqui não há solução de curto prazo, pois o arroz é alimento básico da grande massa, especialmente dos países mais pobres e populosos do mundo. "O Brasil pode ser o grande beneficiado nesse cenário", comenta Porto.

O trigo instável - Também a crise no abastecimento mundial do trigo, que ocorre mesmo diante de uma safra recorde, pode beneficiar o produtor brasileiro, pelo menos nesta safra. Embora o mercado se mostre favorável, falta semente, significando que será impossível aumentar significativamente a produção nesta safra. Nem é possível prever quantas safras durará essa situação favorável, pois o Brasil tem que competir, ano a ano, com o país mais competitivo do mundo, a vizinha Argentina. Ao mesmo tempo que incentiva a produção nacional, o Ministério da Agricultura conversa com os representantes dos paises produtores vizinhos, mostrando que a atual política de retenção da venda pode se voltar contra eles. "Mostramos a eles que não tem sentido darmos a eles uma preferência tributária de 10% se não querem nos vender", afirmou Porto. Embora os produtores argentinos estejam dispostos a vender seu trigo aos fieis compradores brasileiros,  eles estão contidos pela política do governo, que oferece outra ameaça: a tributação, nas exportações, de 18%  na farinha  e 28% no grão. "Há moinhos brasileiros pensando em se instalar na Argentina", frisou Célio Porto.

O homem, o meio ambiente e os OGMs - Ele reconhece que as soluções à escassez de alimentos são muito complexas e envolvem a ampliação das áreas destinadas à agricultura e utilização de variedades geneticamente modificadas para melhorar a produtividade em função do controle de pragas e doenças. Mas, falar em ampliar as áreas destinadas à agricultura mexe com o meio ambiente. "Pode chegar o momento que teremos que optar em salvar vidas ou árvores", reconheceu.

Contenção das exportações? - "O Brasil vai proibir as exportações?", pergunta-se Célio Porto. Sem oferecer uma resposta direta à pergunta, Porto mostra que o fechamento do mercado exportador causa, internamente, uma situação artificial no mercado e impede que os agricultores, que estão endividados, tenham a oportunidade de, num momento favorável, aufiram uma renda extra que permita liquidar seus compromissos. E também impede que os produtores ampliem a produção diante de uma situação artificial do mercado interno.

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