MERCADO: Em plena colheita, feijão a R$ 300/saca

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Em plena safra, o feijão segue valorizado e ontem foi cotado a R$ 300 a saca de 60 quilos o carioca e R$ 145 o preto, uma variação de 328% e 190%, respectivamente, em relação a 23 de janeiro do ano passado. Os dados são da Correpar Corretora de Mercadorias e consideram o produto posto em São Paulo, referência de preço do produto. O cenário contraria a tese de recuo nos preços no período da colheita, quando a oferta é maior.

Colheita - No Paraná, o feijão está no pico da colheita, com metade da área colhida. Um novo levantamento do Departamento de Economia Rural (Deral), da Secretaria Estadual da Agricultura (Seab), que deve ser divulgado até amanhã, revela que a primeira safra no Paraná pode render 423 mil toneladas, em uma área de 292,5 mil hectares. Uma queda de 28% na área e quase 25% na produção. A cotação atual, que mantém-se desde o início do ano, é recorde absoluto. "No caso do feijão carioca, por exemplo, poucas vezes depois do Plano Real [julho de 1994] a cotação chegou perto dos R$ 200 a saca", lembra Marcelo Eduardo Lüders, da Correpar. Em dezembro, logo no início da safra atual, o preço chegou a cair um pouco, recuperando-se na virada do ano.

Oferta - Para fazer frente ao aumento dos preços, que chegam ao consumidor final e inflacionam a cesta básica, o governo federal tem realizado leilões para aumentar a oferta do alimento, que também pode ser importado da Argentina. Entres os motivos para a alta está a área menor e a queda na produtividade das lavouras, verificada no feijão de primeira safra em todas as regiões produtoras do país, diz Lüders. Ele explica que, além dos problemas ocasionados pelo atraso no plantio e a estiagem verificada em alguns locais, surge uma preocupação com um fenômeno chamado de amplitude térmica, a diferença entre a temperatura do dia e da noite. Quando há uma variação além da tolerável, com noites mais frias, o feijão perde em produtividade.

Produção - Pelo número da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), o Brasil deve colher 1,49 milhão de toneladas de feijão de 1.ª safra, produção 4,8% menor que no ano passado. A previsão feita pelo mercado é de uma redução ainda maior, de 19%, para um resultado de 1,259 milhão de toneladas. A produção de feijão no país é bastante alinhada ao consumo. As 3,7 milhões de toneladas produzidas durante o ano são para abastecer o mercado interno, que consume perto de 308 mil toneladas de feijão por mês, destaca Lüders. Com 30% da produção nacional, o Paraná divide a primeira posição no ranking com Minas Gerais. Os três estados da Região Sul respondem por 44% da safra brasileira.

Queda de braço - Margorete Dermarchi, agrônoma do Deral, diz que não existe uma explicação razoável para o aumento significativo de preços, a considerar que não houve explosão no consumo e a safra no Brasil reduz menos de 5% em produção, segundo estimativa da Conab. Ela acredita que, a partir de agora, o mercado começa a travar uma queda de braço com o consumo para definir o preço. "Num mercado tão volátil, só Deus para saber o que vai acontecer."

Preço recorde chega ao produtor - Pelo Sistema de Informação do Mercado Agrícola do Deral, ontem o preço médio pago ao produtor no Paraná atingiu a média de R$ 200,09 para o feijão carioca, contra uma cotação de R$ 42,46 há um ano. O preto chegou a R$ 109,35, ante R$ 34,08. As variações são de 371% no primeiro e 221% no segundo caso. No varejo, o preço médio de janeiro nas principais regiões de comercialização do Paraná é de R$ 5,12 o de cor - R$ 1,94 há um ano - e R$ 2,98 o preto, contra R$ 1,64. O consumidor, no entanto, pode encontrar feijão ainda mais caro no supermercado. "Tem preço acima desta média, definido para o produto de melhor qualidade", diz Margorete Demarchi, agrônoma do Deral. Ela acredita numa acomodação e até uma queda nos preços do varejo a partir dos próximos dias. A tese é que o impacto do preço alto reduz o consumo e as pessoas podem trocar o feijão por proteína animal. "O feijão passa a ser a mistura, e não a base da alimentação." (Gazeta do Povo)

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