OPINIÃO: China - Oportunidade para as cooperativas
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Davi R. de Moura Costa* Felippe C. Serigat**
Os impactos do acelerado crescimento chinês sobre a economia brasileira há tempos é tema para muita reflexão e análise, e assim deverá permanecer por um longo período, pois freqüentemente são descobertas novas faces do fenômeno. O fortalecimento e a expansão de uma grande classe média chinesa com elevada propensão a consumir é um dos aspectos, e proporciona grandes oportunidades, que ainda não foram aproveitadas pelo agronegócio brasileiro de uma forma geral. Muito já se falou dos canais pelos quais as exportações brasileiras vêm se beneficiando desse crescimento. Destacadamente, os acelerados processo de industrialização e de urbanização têm proporcionado, respectivamente, crescente demanda por produtos primários, tais como commodities agrícola e mineral, e por alimentos.
No entanto, todo processo de crescimento acelerado, principalmente quando associado a uma forte mudança no estivo de vida, promove a consolidação e expansão de grupos com significativo poder aquisitivo e grande apetite por consumo, pois desejam desfrutar de confortos e comodidades ainda pouco experimentados. Esse processo já está em curso na China, e números, como o crescimento do varejo chinês, que se expandiu em 17% em 2007, não deixam dúvidas de que uma nova classe média está surgindo e se consolidando.
Os números oficiais da balança comercial entre o Brasil e a China e do comércio entre o Brasil e a China e do comércio exterior chinês com o resto do mundo deixam claro que nossa pauta de exportação ainda é fortemente marcada por produtos primários de baixo valor agregado, e que importantes mercados para produtos um pouco mais sofisticados têm sido deixados de lado.
Brasil: exportações para a China (US$ mi FOB)
Produtos
Valores
Óleo de soja
384.665
Fumo
270.723
Couro e peles
251.333
Suco de laranja
49.268
Carne de frango
11.905
Café solúvel
2.388
Café (beneficiado)
1.081
Carne bovina
0.266
As exportações para o mercado chinês de produtos com grau de processamento um pouco mais elevado, tais como açúcar de cana, bolachas, bolsas e vestuários de couro, cacau em pó, chocolate, frutas frescas e secas, leite em pó e manteiga, no mesmo período de março de 2007 a fevereiro de 2008, não chegaram a somar, juntos, US$ 1 milhão. Por meio dos dados disponíveis no Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) nota-se a dimensão do mercado que ainda está sendo pouco aproveitado pelas cooperativas agrícolas brasileiras e pelo agronegócio como um todo. Para as cooperativas tornarem a oportunidade uma realidade efetiva, algumas adequações estratégicas, que complementam aquelas sugeridas na edição anterior, precisam ser realizadas. Tais estratégias podem ser divididas em dois grupos: externas (mercado) e internas (cooperados).
China: importações em 2005 (US$ mi em FOB)
Produtos
Valores
Açúcar de banana
323,0
Bananas frescas
35,0
Bolachas
14,5
Bolsas + vestuário de couro
36,0
Cacau em pó
36,0
Chocolate
17,0
Goiabas e mangas
43,0
Laranja
100,0
Leite em pó
131,0
Maças
25,0
Manteiga
18,0
Uvas
82,0
Total
890,5
No que se refere às estratégias para o público externo as cooperativas agropecuárias devem:
- Alterar suas pautas de exportação gradativamente, migrando de commodities para produtos de alto valor agregado para atender aos novos integrantes da classe média e seus desejos de consumo;
- Promover parcerias estratégicas com empresas chinesas que conheçam o perfil da classe média, pois a informação é de extrema relevância.
- Internamente, as cooperativas deverão adotar as estratégias que impliquem na sua relação como o cooperado e funcionários:
- Propiciar know-how para seus funcionários ou contratar profissionais no mercado que saibam comercializar com aquele país;
- Realizar contratos de fornecimento de produto com os cooperados e demais fornecedores, prevendo a qualidade e a regularidade da entrega;
- Investir na modernização ou ampliação de seus parques industriais para garantir produtos de alta qualidade e economias de escala.
*Doutorando em Economia de Empresa EESP/FGV
** Mestrando
Publicado na revista Agroanalisys