OPINIÃO: Considerações sobre o preço do milho

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Em decorrência de uma série de fatores, dos quais o principal foi a drástica elevação da quantidade demandada de milho para produção de etanol nos Estados Unidos (que, por sua vez, foi agravada por uma quebra de produção de milho na Europa), os preços deste cereal no Brasil atingiram níveis elevados, principalmente no segundo semestre de 2007. O mais impressionante é que estes preços ocorreram em um ano em que o país colheu a maior safra de milho de sua história, o que indica a inserção do país no mercado internacional do cereal. Esta inserção fez com que acontecimentos que afetaram o mercado internacional influenciassem o mercado interno, possibilitando o escoamento do excesso de produção de milho via exportações.

O resultado destes preços mais elevados e da conseqüente exportação esperada de algo superior a 10 milhões de toneladas foi uma série de demandas dos setores consumidores internos de milho para obter a permissão de importação de milho de outros países, como forma de conter os avanços de preços no mercado interno. A lógica desta solicitação foi o crescimento do prêmio recebido pelo milho brasileiro em decorrência de não ser transgênico, que criou um diferencial entre o preço recebido pelos exportadores brasileiros e os valores verificados em países tradicionalmente exportadores (Estados Unidos e Argentina) que, por não segregarem os grãos não-transgênicos, não se apropriaram desta característica desejada pelos importadores europeus.

Mas estariam os preços de milho em patamares realmente elevados?

A série de preços mensais de milho, coletados pela Fundação Getúlio Vargas desde 1969, deflacionados pelo IGP-DI calculado por esta mesma instituição mostram que não necessariamente esta afirmativa é verdadeira.

No período compreendido entre o início da série e o ano de 1986, preços de milho, deflacionados pelo IGP-DI, superiores a R$ 40,00 a saca de 60 kg eram a regra. Em várias ocasiões, valores equivalentes a R$ 70,00 ou superiores ocorreram. Do ano de 1987 até 1993, os preços deflacionados da saca de milho estiveram com maior freqüência no intervalo de R$ 30,00 a R$ 40,00. A partir de 1994, os preços deflacionados estiveram principalmente no intervalo entre R$ 20,00 e R$ 30,00.

Entretanto, mesmo neste período de graça para os consumidores picos de preços deflacionados, ao redor de R$ 30,00 por saco de 60 kg de milho, ocorreram em algumas ocasiões. Exemplos desta situação foram os preços verificados em dezembro de 1994; em praticamente todo o ano de 1996; nos meses de dezembro de 1999 e janeiro/fevereiro de 2000; e no período compreendido entre outubro/dezembro de 2002 e janeiro/fevereiro de 2003. Desta forma, preços ao redor de R$ 30,00 não podem ser considerados excessivos, principalmente ocorrendo no fim do ano. Este período compreende os meses de maior consumo e também um período de incerteza sobre a produção da safra de verão, que é a responsável pela maior parte do abastecimento interno do país.

Muitos destes picos de preços têm uma explicação lógica, com base na produção interna. O pico de 1994 foi provavelmente causado por uma redução na produtividade obtida na safrinha daquele ano em São Paulo e no Paraná, o que já mostrava a importância deste plantio para a estabilização dos preços internos no segundo semestre. A partir de janeiro de 2005, os preços começaram a cair, frente à perspectiva de colheita de uma boa safra naquel ano.

A quebra de quase 5 milhões de toneladas da safra de milho de 1995/96 deu suporte para os preços elevados do ano de 1996. Outra redução da produtividade obtida na safrinha, desta vez a de 1999 e em todos os estados produtores, foi responsável pela elevação dos preços em fins daquele ano.

Outra quebra de safra, desta vez em ambas, de verão e safrinha de 2001/2002, provocou o pico de preços do final de 2002 e início de 2003. Que foi o pior de todos, com a saca de milho atingindo preço equivalente a R$ 33,00 e, pior, com claros sinais de desabastecimento interno (que foi agravado pela polêmica sobre importação ou não de milho transgênico da Argentina ou dos Estados Unidos).

Como em todo caso de pico, a situação tende a se normalizar na medida em que sinais de uma safra adequada aparecem no horizonte. Em alguns dos casos anteriores, os preços caíram a níveis abaixo do equivalente a R$ 20,00, constituindo-se um forte desestímulo para os produtores.

E agora, como será?

Com relação ao ano de 2008, a primeira sinalização vem de informações, como as coletadas pela Céleres em 14/12/07 indicando que nas 14 praças pesquisadas reduções de preço se verificaram em sete e em cinco os preços se mantiveram estáveis. Isto é um sinal de que as necessidades de fim de ano já haviam sido atendidas e que havia estoque suficiente para esperar pela próxima safra de verão. Esta safra, em que pese atrasos no plantio no Sudeste e no Centro-Oeste, terá sua definição no mês de janeiro, com a constatação dos efeitos do La Niña sobre a produtividade das lavouras de milho, principalmente no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina.

No mercado externo, a nova lei de energia dos Estados Unidos, embora estabeleça um limite para a produção de álcool a partir de milho, o fez em um nível elevado, o que indica a continuação de pressões de demanda sobre este cereal. Se em 2007 aos produtores americanos foram capazes de atender a esta demanda adicional e ainda aumentar as exportações, novas incertezas existem com relação à safra de 2008, e perdurarão nas próximas safras, até que a confiança seja restabelecida e os preços reiniciem a sua tendência histórica de decréscimo.

De qualquer forma, as perspectivas para os próximos anos será de um novo patamar de preços nos mercados internacionais, que se transmitirão para o mercado brasileiro e manterão os preços ainda distantes dos verificados anteriormente.

Aos consumidores, recomenda-se maior atenção com o desenvolvimento das lavouras no Brasil, safra e safrinha, e no mercado externo, para não serem surpreendidos por preços mais elevados no fim do ano. Aos produtores, recomendam-se atenção na comercialização e os mesmos cuidados dos consumidores com relação aos sinais de mercado, com o objetivo de realizar uma comercialização mais profissional e mais rentável.

por João Carlos Garcia (Este endereço para e-mail está protegido contra spambots. Você precisa habilitar o JavaScript para visualizá-lo.) e Jason de Oliveira Duarte (Este endereço para e-mail está protegido contra spambots. Você precisa habilitar o JavaScript para visualizá-lo.), Pesquisadores da área de economia rural da Embrapa Milho e Sorgo

Artigo publicado no Jornal Eletrônico da Embrapa Milho e Sorgo (Sete Lagoas-MG) http://www.cnpms.embrapa.br/grao/4_edicao/grao_em_grao_artigo.htm

 

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