OPINIÃO: O mercado do milho no Brasil

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O milho é o principal insumo dos complexos agroindustriais do frango, do suíno e da pecuária bovina de leite. Compõe o custo de produção dos produtos de origem animal e, consequentemente, impacta o custo da alimentação humana e os índices de inflação.

Os altos preços de mercado do grão, neste final de ano, estão gerando atritos entre os diferentes elos das cadeias de produção. Alguns opinam sobre a qualidade das informações disponíveis e outros pleiteiam ações do governo sobre a venda dos estoques públicos, proibição ou não da exportação e permissão ou não de importação do produto transgênico.

Este artigo tem como objetivo analisar as informações disponíveis sobre o mercado brasileiro do grão neste final de 2007 e em 2008, contribuindo para a redução dos custos de transação entre os elos das cadeias de valor.

OFERTA E DEMANDA 2006/07

As ótimas condições de clima afetaram favoravelmente a primeira e a segunda safras 2006/07, resultando numa produção total de 51,370 milhões de toneladas. Esta, somada ao estoque inicial de 5,262 milhões e a importação de 1,0 milhão de toneladas, gera uma oferta total de 57,632 milhões de toneladas em 2007.

No ano civil de 2007 as estimativas de consumo interno e exportação alcançam 40,5 e 10,8 milhões de toneladas, registrando aumentos de 9,5% e 274,3% sobre o ano anterior. Tais desempenhos se explicam pela recuperação da suinocultura e da bovinocultura de corte, pelo crescimento da avicultura e da produção de leite e pelas importações adicionais da Europa e do Irã.

O estoque de passagem de 2007 para 2008 será de 6,332 milhões de toneladas ou 15,6% do consumo interno.

OFERTA E DEMANDA 2007/08

A falta de chuva, durante a segunda quinzena de setembro até o final do primeiro decêndio de outubro, retardou o início do plantio da safra 2007/08 entre 30 a 45 dias, dependendo da região do país. Provocou também desuniformidade no stand de plantas dos primeiros plantios, intenso ataque de lagarta do cartucho e baixa eficiência em seu combate em várias regiões. 

Com a regularização das precipitações após 15 de outubro o plantio foi recuperado e ocorreu em mais de 90% da área, estimada em 9,756 milhões de hectares, que, em condições normais de clima produzirão 37,080 milhões de toneladas.

O atraso na colheita deverá atrasar também o plantio da segunda safra, prevista inicialmente em 14,187 milhões de toneladas, também em condições normais de clima.   

O mercado interno está antecipando a pouca disponibilidade do produto no início do próximo ano, provocado pelo alto volume de exportação em 2007 (10,8 milhões de t), embarques que continuarão a ocorrer em 2008, aumento do consumo interno, baixo estoque do governo (atual de 1,0 milhão de t e zero em 2008), pelo atraso no início da colheita da safra e pelo provável impacto negativo do fenômeno climático la nina sobre a produção.

Em janeiro e fevereiro de 2008 a disponibilidade de milho será o estoque de passagem (6,332 milhões t) mais em torno de 4,0 milhões de toneladas a serem colhidas na segunda quinzena de fevereiro, basicamente na região sul, contra uma média de 10 a 12 milhões de toneladas em anos de plantio sem atraso. O consumo interno e a exportação deverão absorver nestes dois meses entre 6,5 a 7,5 milhões de toneladas, evidenciando a situação justa entre a oferta e a demanda. Tal situação implica em falta de milho em algumas regiões e sobra em outras, porque a produção e o consumo não estão perfeitamente distribuídos e superpostos no espaço territorial. Deverá faltar produto em São Paulo, Minas Gerais e na Região Nordeste e sobrar um pouco no Paraná e no Rio Grande do Sul. 

O balanço de oferta e demanda para o ano civil de 2008 também mostra uma situação justa: oferta total de 58,399 milhões de toneladas (estoque inicial + produção + importação de 800 mil t), demanda total de 52,5 milhões de toneladas (consumo interno de 44 mais exportação de 8,5) e estoque de passagem de 5,899 milhões de toneladas.

A estimativa do consumo interno aumentará 8,6% em relação a 2007 e a exportação deverá diminuir, devido a menor importação pela Europa e Irã.

Se o clima provocar uma frustração da produção deverá ocorrer uma redução do volume exportado, um aumento na previsão de importação, basicamente da Argentina e do Paraguai, e preços recebidos pelos produtores significativamente superiores as médias históricas e aos custos de produção. Se a produção for a estimada, os preços de mercado seguirão a sazonalidade: diminuirão a partir de março, com a maior disponibilidade do produto, e aumentarão gradativamente no segundo semestre, mas permanecendo acima das médias históricas.  

AS CADEIAS PRODUTIVAS

As cadeias produtivas dos produtos finais que demandam milho como insumo não apresentam organização baseada em contratos entre os produtores de milho e os produtores de ração ou de suínos e aves, exceto nas integrações verticais onde são adotados entre abatedouros e produtores de aves ou de suínos.

A organização de livre mercado tem sua eficiência e custos de transação fundamentados em atitudes oportunistas. Quando a oferta supera a demanda, os produtores de milho recebem preços abaixo do custo e reagem produzindo menos no período seguinte. A menor oferta resulta em altos preços recebidos pelos produtores de milho, que aumenta os custos dos alimentos de origem animal e também a produção de milho no período subseqüente. O último período de baixos preços se verificou até abril de 2006 e de alta após.

O MERCADO

A reação a atitude oportunista de preços de mercado inferiores ao preço mínimo em 2001 levou as cooperativas paranaenses a exportarem o cereal, pela primeira vez desde os anos 80. Este fato e o uso na produção do etanol nos EUA a partir de 2005 mudaram o mercado do grão. Os preços recebidos pelos produtores tendem para a paridade da exportação, em situação de normalidade do abastecimento, e para a paridade da importação, quando ocorrer escassez interna.    

Os preços médios recebidos pelos produtores paranaenses aumentaram de R$ 19,58 em setembro e R$ 19,39 em outubro para R$ 22,82 a saca em novembro. No atacado variam entre R$ 28 a 32,5 a saca, acima da paridade da exportação, o que está provocando operações de recompra de posições de produto exportado (em torno de 250.000 t).

As exportações por Paranaguá neste ano somam 4.614,65 mil toneladas e existem mais três navios nomeados para dezembro, com previsão de embarque de mais 165 mil toneladas.

O preço CIF em Paranaguá aumentou 21% em reais em 30 dias, variando entre R$30,5 a R$33,5 a R$ 33,5 a saca ou U$ 17 a U$17,9.

Eugenio Stefanelo. Professor da UFPR e da UNIFAE e técnico da CONAB.

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