OPINIÃO: Semente - legalidade e produtividade

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* Almir Montecelli

Chegamos ao final do plantio da safra de soja e já podemos fazer um balanço do comportamento do setor paranaense de sementes: mais de 600 mil sacas apreendidas entre sementes piratas (70%) e irregulares (30%), segundo informações da superintendência do Ministério da Agricultura no Paraná. Além disso, 450 hectares de soja em crescimento estão interditados e terão a colheita acompanhada pela fiscalização. As multas aplicadas aos produtores e comerciantes chegam a vários milhões de reais, mostrando que a atividade ilegal está sendo duramente coibida.

A semente pirata começou a entrar no Brasil na safra de 1997, através da fronteira da Argentina com o Rio Grande do Sul. A "Maradona", como foi chamada, fez estragos na atividade produtiva gaúcha, desestruturando o setor sementeiro e derrubando a produtividade.

A taxa de utilização de sementes de soja no Rio Grande do Sul, que foi de 65% na safra 98/99, caiu gradativamente nos anos seguintes, chegando a apenas 1% na safra 2003/2004. Vivíamos, então, um período de entraves legais com a biotecnologia e frustrações climáticas, que contribuíram para o governo federal afrouxar a fiscalização e decretar medidas provisórias liberando excepcionalmente o plantio de sementes pirateadas.

O produtor estava de olho no possível milagre da semente transgênica importada, que o livraria de aplicações extras de defensivos agrícolas nas lavouras. O pretenso milagre acabou se transformando em algoz do agricultor gaúcho, reduzindo a produtividade da soja dos 2.395 kg/hectare na safra 2000/01 para 1.400 kg/hectare na safra 2003/04 e 698 kg/hectare na safra 2004/05, quando a estiagem contribuiu para essa vertiginosa queda.

Enquanto os produtores gaúchos acordavam para os malefícios dessa liberalidade, a semente pirata chegou a várias regiões do Paraná, trazendo o prejuízo da redução da produtividade no campo e o ônus das multas aos comerciantes. Temos certeza que, depois de um período de liberalidade, a ilegalidade está chegando ao fim.

Ilegalidade que, segundo algumas estimativas, traz uma redução de aproximadamente 20% na safra nacional, estimada em 58 milhões de toneladas. Ao preço atual, o prejuízo chegaria a mais de R$ 7 bilhões. Mesmo que as perdas atuais, num momento de redução da pirataria, cheguem apenas a 10% da safra, o prejuízo continua enorme: mais de R$ 3,5 bilhões.

Se quisermos uma agropecuária desenvolvida, não podemos fechar os olhos para as irregularidades. Já conhecemos os efeitos nocivos dessa ilegalidade que desestruturou o setor sementeiro do Rio Grande do Sul, reduziu a produtividade e propiciou o aumento de doenças nas lavouras.

Entende-se que as razões por que o agricultor usou essa semente ilegal não existem mais, pois já temos cultivares de soja desenvolvidas pela nossa pesquisa para todas as regiões do estado.

Defendemos que se corte de uma vez o mal pela raiz, evitando dar esperança a quem insistiu no erro, induzido por terceiros ou porque queria ganhar além daquilo que a atividade legal permite. Coibindo o erro, o governo estará premiando quem age corretamente, permitindo novos avanços tecnológicos e a redução de custos.

* Almir Montecelli é engenheiro agrônomo, presidente da Apasem - Associação Paranaense de Produtores de Sementes e Mudas.
 

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