PECUÁRIA: Leite barato leva vacas holandesas ao frigorífico
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Duas semanas depois de produtores rurais despejarem 100 litros de leite em praça pública em Honório Serpa, no Sudoeste do Paraná - para protestar contra a queda nos preços do produto -, pecuaristas da região de Castro (Campos Gerais) começam a vender matrizes para frear a produção. A idéia é reduzir os prejuízos provocados pelos preços em baixa. O protesto no Sudoeste, no dia 18 de setembro, mostrou a crise enfrentada no campo. Os produtores, que negociavam o litro do leite por R$ 0,55, passaram a receber R$ 0,35 dos laticínios. A situação no Sudoeste é apontada como a mais grave do estado, porque os produtores têm menos tecnologia e investiram alto na atividade nos últimos anos.
Castrolanda - Em Castro, onde boa parte dos 215 pecuaristas ligados à cooperativa Castrolanda alcança alta produtividade, a produção de leite segue caminho inverso ao habitual. Em vez de apostarem na capacidade produtiva do animal, os donos dos rebanhos leiteiros estão vendendo matrizes ou diminuindo a alimentação dos bichos para barrar a produção. Isso acontece 50 dias depois de o setor declarar falta de vacas para o Agroleite, feira anual da Castrolanda. Da previsão de 750, apenas 680 animais foram expostos em agosto, e só 10% efetivamente leiloados.
Comercialização - O produtor Sandro Hey conta que já vendeu 20 vacas leiteiras para a indústria da carne. "Tem muito produtor vendendo os animais para o abate - aqueles que produzem menos estão indo para o frigorífico", explica. O pecuarista Hans Jan Groenwold, que acumula prêmios na Agroleite de maior produtividade por vaca leiteira, segue o mesmo caminho. Na última quarta-feira, ele comercializou cinco matrizes. A medida, frisa, reduz a produção, mas não traz lucro ao produtor. "Você não encontra preço bom no mercado de abate", diz. O reflexo da redução da produção na região nos preços do leite também é considerado pequeno. Uma vaca leiteira de R$ 5 mil alcança R$ 3,5 mil nos frigoríficos. Para o produtor Lucas Rabbers, a venda de animais está descartada até o momento, mas ele admite que poderá diminuir a alimentação do rebanho para reduzir a produção de leite. Sua propriedade gera em torno de 14 mil litros do alimento por dia. Sandro Hey acredita que essa é a tendência. Ele próprio já está controlando a alimentação do rebanho. De acordo com Hans Groenwold, a diminuição da ração pode comprometer a saúde do animal e, por enquanto, ele não pretende tomar essa medida.
Redução afeta indústria aberta em agosto - A queda na produção já é sentida na Usina de Beneficiamento de Leite (UBL), que foi implantada em agosto pela cooperativa Castrolanda, em Castro. Na segunda quinzena de setembro, conforme o gerente industrial Gilberto Wolf, a média de 800 mil litros de leite processados por dia caiu para 650 mil litros. A usina suporta uma capacidade mínima de 400 mil litros/dia. "Nós não sabemos se vai chegar a índices tão baixos, mas isso nos preocupa", admite, lembrando que os diretores da cooperativa já estão se reunindo para discutir soluções para a crise. Wolf considera ainda que as medidas tomadas até o momento pelos fazendeiros para conter a produção também são preocupantes. A oscilação tem efeitos diversos nas propriedades. "Se a vaca produz 30 litros por dia e começa a produzir 20, isso tem conseqüências. Entre os grandes produtores, a situação se reverte em 30 a 45 dias, mas entre os pequenos pode demorar uns seis meses", comenta. Além disso, para o ano que vem, se a produção estiver baixa, o preço tende a subir, o que prejudica o consumidor.
Gastos - Os gastos com produção e com folha de pagamento, neste final de ano, são fatores que agravam a crise. O preço médio pago ao produtor de leite no Paraná, segundo o Conseleite, foi de R$ 0,48 em setembro, ou seja, dois centavos a menos que em agosto. Em algumas propriedades, o custo de produção chega a R$ 0,60. "O preço do adubo, do milho e da soja subiu muito, vamos começar a ter prejuízo com o custo de produção sempre em alta", comenta o produtor Sandro Hey. Lucas Rabbers lembra que em sua propriedade há obras em construção e que não pode dispensar funcionários neste momento. "Temos 20 trabalhadores conosco e vamos ter que pagar todos os direitos agora no final do ano", lembra. Hans Groenwold não acredita que possa haver demissões no campo devido à crise dos preços mas, em sua fazenda, a regra é cortar custos. "Não podemos gastar nada além do necessário", comenta. (Gazeta do Povo/Caminhos do Campo)