SAFRA 2008/09: Insumos elevam os custos em 16,2%
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A elevação nos preços internacionais dos insumos, somada à volta dos investimentos no campo e à adoção de um pacote tecnológico mais sofisticado, deve provocar um novo aumento nos custos de produção para a próxima safra de verão (2008/09) no Brasil. Os dados recém-coletados pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) apontam elevação generalizada nas despesas com sementes, fertilizantes e defensivos agrícolas na temporada, que começa em julho. Em uma amostragem das seis principais culturas em 13 das maiores regiões produtoras do país feita para o Valor, a Conab estima uma alta de 16,2% nos custos de produção por hectare plantado ou de 12,3% por saca colhida na comparação com a safra 2007/08, que termina em junho próximo.
Valorização das commodities - A diferença é explicada pela elevação da produtividade, que aumenta a receita e tende a diluir o peso dos acréscimos das despesas a médio prazo, mas que impacta os resultados no curto prazo. "Esse aumento nos custos de produção também se deve à mudança na metodologia de cálculo. Atualizamos o pacote tecnológico usado pelos produtores e incluímos despesas antes não contabilizadas", diz Asdrúbal Jacobina, gerente de Custos da Conab. Segundo ele, foram incluídas, por exemplo, mão-de-obra fixa nas fazendas e taxa de administração em financiamento de custeio. Responsável pela estratégia do governo para enfrentar a alta nos custos de produção, o secretário de Politica Agrícola do Ministério da Agricultura, Edílson Guimarães, afirma que a tendência se repete em todos os principais produtores do mundo devido à forte valorização das commodities. "Os insumos estão subindo por causa da forte demanda internacional por esses produtos. Isso está ocorrendo no mundo todo", avalia.
Monopólios ampliam custos - Guimarães faz, porém, uma ressalva no caso brasileiro: "Mas aqui ainda tem a ação dos monopólios, o que potencializa esses aumentos". Para ele, o câmbio favorável para a importação de insumos, cotados em sua maioria na moeda americana, tem atrapalhado na comercialização da produção. Neste ano, por exemplo, os produtores de soja fecharam negócios a preços muito mais baixos no início do plantio da safra e agora tentam formas para amenizar essa diferença de receita. O aumento nos custos de produção para a próxima safra deve influenciar a formulação do Plano de Safra 2008/09. O governo federal começa a estudar algumas medidas para baratear os empréstimos ao setor. "Uma solução tradicional é aumentar o volume de recursos a taxas de juros mais baratas", receita o secretário de Política Agrícola. A renegociação das dívidas também poderia dar "uma folga" de caixa aos produtores.
Contas do passado - O presidente da Associação de Produtores de Soja de Mato Grosso (Aprosoja-MT), Glauber Silveira, afirma que algumas regiões já tiveram, em 2007, um forte aumento nos custos de produção. E reivindica uma ação profilática do governo antes de uma eventual nova crise de renda no campo, como ocorrido em 2004 e 2005. "Queremos buscar uma saída para Mato Grosso. Por mais que a produção em si aumente, o nível de renda do produtor está deficitário, podendo prejudicar o próximo ciclo", diz. Segundo ele, os produtores do Estado acumulam prejuízo de R$ 2,6 bilhões desde 2004.
O peso dos fertilizantes - O estudo da Conab mostra que os custos de produção da soja, por exemplo, devem crescer 2,6% por hectare em Sorriso, no médio norte de Mato Grosso. Município com a maior área dedicada à soja, Sorriso deve registrar uma elevação de 2,7% por saca do grão na próxima safra. "No Paraná, o custo com fertilizantes passou de R$ 136 para R$ 267 por hectare", exemplifica Stelito dos Reis Neto, da Conab. Há outros exemplos de forte elevação dos custos. O algodão de Rondonópolis também sofrerá com a alta nos preços dos insumos. Segundo a Conab, as despesas devem crescer 19,1%. No arroz de sequeiro, cultivado em Sorriso, o aumento será de 6,5%. No feijão, o custo das sementes saltou 50% de uma safra para outra em Campo Mourão (PR). Com adubo, os produtores devem desembolsar 66% a mais. No milho, os paranaenses gastarão 12% a mais com sementes e 48% com fertilizantes, além de usar 40% mais defensivos na mesma área plantada na safra 2007/08. (Valor Econômico).