SUCROALCOOLEIRO: Safra maior pode frustrar estratégia de entressafra

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O mesmo tempo seco que vem prejudicando parte das lavouras de grãos no País também contribuiu para que a moagem de cana-de-açúcar no Centro-Sul fosse novamente revista para cima. A mais recente estimativa da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica) é de que, com a moagem recorde de dezembro, a safra toda atinja 500 milhões de toneladas, aumento de 16% em relação ao ciclo 2007/08. No começo da safra, em maio do ano passado, as chuvas persistentes fizeram a entidade prever uma moagem de 480 milhões de toneladas. Para analistas, o incremento da produção de álcool em dezembro e janeiro, aliada à previsão de que algumas usinas vão antecipar o início da próxima safra para março, elevam a possibilidade de a oferta grande reduzir a pressão altista nos preços. "Pode haver um volume maior de álcool no mercado de forma a minimizar a esperada pressão de alta nos preços", avalia Mário Silveira, analista de gerenciamento de risco da FCStone.

Variação - O receio de elevação de preços na entressafra, fez as distribuidoras de combustíveis comprarem mais álcool hidratado neste início do ano e, os preços, entre 5 e 9 de janeiro, subiram 2% de R$ 0,7533 para R$ 0,7690 nas usinas de São Paulo, segundo o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/Esalq/USP). Este valor está próximo dos R$ 0,7331 registrados em 4 de janeiro de 2008. Em vez de subir, os preços do álcool na entressafra passada caíram e só foram se recuperar em março, ainda assim, sem grandes variações - atingiu máxima de R$ 0,76 (alta de 3,9%).

Mudança de estratégia - Sem deixar de mencionar que o cenário depende das condições climáticas, Silveira analisa que é possível que a maior oferta de álcool na atual safra desmonte a estratégia das grandes usinas de carregar estoques para vender a valores mais atrativos na entressafra. "Se essas usinas perceberem que a entressafra será pequena e que segurar estoque não dará resultado, elas vão ter de colocar o produto no mercado", explica o especialista. Além de a oferta de álcool estar maior por causa do "prolongamento" da safra, Silveira acredita que as usinas que concluíram a moagem em dezembro devem ser as primeiras a retomarem a partir de março. "Elas deixaram muita cana em pé e vão voltar o mais cedo possível para recuperar esse volume", justifica Silveira.

Moagem - Segundo a Unica, até o último dia de dezembro, 496,716 milhões de toneladas de cana haviam sido moídas. Do total de 298 usinas, 40 unidades ainda continuaram moendo em janeiro. O mix ficou em 39,78% para açúcar e 60,22% para álcool, que acumulou produção de 24,61 bilhões de litros, 21,37% maior que na safra anterior.

Falta de liquidez - José Carlos Toledo, presidente da União dos Produtores de Bioenergia (Udop), diz que o grande problema é a falta de liquidez que já prejudicou o potencial de elevação de preços na entressafra durante o ano passado - quando as usinas tiveram que queimar estoques para fazer caixa - e continua afetando esse potencial, uma vez que grande parte das usinas que prolongaram a safra com moagem em dezembro e janeiro o fizeram para fazer caixa, por problemas de liquidez. Toledo acredita que haverá redução da entressafra, em média, de cinco dias. "Teremos três a cinco usinas que vão começar a moer em março, mas a maior parte, na média, será em 10 abril", acredita o presidente da Udop, entidade que representa as usinas do Oeste paulista. De qualquer forma, segundo ele, junto com a produção maior, há também uma demanda maior no mercado interno. De acordo com a Unica, as vendas totais de álcool total no Brasil estão 15% maiores. No acumulado da safra, o volume vendido deve atingir 20,6 bilhões de litros, entre anidro e hidratado, para o mercado automotivo e para outros fins.

Estoques - Para Júlio Maria Borges, da JOB Consultoria, mesmo com a moagem de 500 milhões de toneladas de cana, os estoques disponíveis não serão suficientes para atender o mercado até o mês de abril. "E como esses estoques estão com poucos grupos sucroalcooleiros, os preços podem continuar firmes e com viés de alta até março. Além disso, esses 500 milhões de toneladas de cana foram processados com um nível de açúcar cerca de 2,7% menor que o normal do Centro Sul", compara Borges.

Cosan lidera queda das sucroalcooleiras na bolsa - Em dia de pessimismo nas bolsas mundiais, as ações da Cosan S.A. lideraram a queda entre as empresas do agronegócio na BM&F Bovespa. Os papéis da companhia recuaram 9,4% de R$ 11,70 para R$ 10,60, quando o Ibovespa, índice que mede as ações mais negociadas na bolsa, caiu 3,95%. As outras empresas do setor sucroalcooleiro também tiveram desvalorização em seus papéis. Os da Açúcar Guarani foram de 8,33% - de R$ 2,52 para R$ 2,31 - e da São Martinho, de 1,45%. Peter Ping Ho, da Planner Corretora, explica que a forte desvalorização dos papéis das companhias produtoras de açúcar e álcool se deve às incertezas dos fundamentos para o setor com os baixos preços do petróleo. "Um mercado ruim para o etanol vai provocar direcionamento da produção para o açúcar e reajuste de preços para baixo", avalia Guarani.

Limite - Júlio Maria Borges, da JOB Consultoria, pondera que ainda que o setor tente direcionar muita cana para produção de açúcar, há um limite nesta transferência pois há limites nas usinas. "A capacidade das fábricas não admite adicional expressivo de produção de açúcar, a ponto de superar a previsão de déficit de 2 milhões de toneladas", afirma Borges.

Pressão - Mário Silveira, analista de gerenciamento de risco da FCStone, afirma que os baixos preços do petróleo nos Estados Unidos e a queda nas cotações do milho vão pressionar ainda mais os preços do etanol naquele país, dificultando a entrada do produto brasileiro. "O que preocupa é que pode não ocorrer abertura das conhecidas 'janelas de oportunidade' que viabilizem às usinas exportar o etanol com lucratividade", explica Silveira. Além das empresas do setor sucroalcooleiro, também tiveram queda - menos acentuada - as ações das empresas de alimentos, lideradas pela Sadia com 4,4% de desvalorização e a Perdigão recuou 1,70%. (Gazeta Mercantil)

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