TRIGO: Plantio do cereal ainda é uma incógnita
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Fortemente dependente de trigo de fora, o Brasil, que ano sim ano não disputa com o Egito o posto de maior importador global do cereal, pode voltar a viver em 2009 uma "gangorra" de oferta. Depois de colher uma das melhores safras em volume dos últimos anos, de cerca de 6 milhões de toneladas, os produtores brasileiros devem reduzir suas apostas no cereal este ano. A poucas semanas de dar início ao plantio do trigo, os produtores do Paraná não estão lá muito animados em investir no cereal. Preferem o milho safrinha. O Estado é o maior produtor de trigo do país, seguido pelo Rio Grande do Sul.
Preços pouco atraentes - Os preços pouco atraentes para o trigo no mercado interno nesta atual entressafra também desestimulam os produtores do Sul do país. No Paraná, o plantio do trigo começa em março e se estende até julho. "Os preços (do cereal) não reagiram nesta entressafra (iniciada em dezembro). E os produtores estão mais inclinados a investir no milho safrinha", afirma Otmar Hubner, engenheiro agrônomo do Departamento de Economia Rural (Deral), da Secretaria de Estado da Agricultura e do Abastecimento do Paraná (Seab). "O Paraná alcançou produtividade recorde nesta safra, de 2,8 mil quilos por hectare", diz. Esse atual marco supera o de 2003, de 2,6 mil quilos.
Área - Na safra 2008/09, o Estado do Paraná destinou 1,15 milhão de hectares para o cereal. Em uma estimativa mais conservadora, a área poderá ser preservada. Mas, considerando o ânimo atual dos produtores, Hubner arrisca dizer que o plantio poderá até cair. O Rio Grande do Sul, com área de 980,3 mil hectares no ciclo passado, poderá ceder mais espaço para outras culturas. A primeira estimativa de plantio deverá ser definida no dia 18 fevereiro em reunião com os produtores do Sul do país.
Fatores decisivos - Segundo Rui Polidoro, presidente da Fecoagro (Federação das Cooperativas Agropecuárias), do Rio Grande do Sul, a decisão de aumentar ou mesmo manter a área para o trigo vai depender de vários fatores. "O governo ficou de definir novo preço mínimo para a cultura. Também vai depender da liberação dos recursos para custeio para nova safra." Os produtores gaúchos podem até esperar mais para decidir o plantio, uma vez que semeiam o trigo entre maio e junho. Nem mesmo a forte quebra da produção de trigo da Argentina nesta safra, o maior fornecedor da matéria-prima para o Brasil, deverá estimular os produtores a plantarem mais, acredita Polidoro. "Houve quebra nesta safra na Argentina por causa do clima, mas há perspectivas de recuperação para o próximo ciclo, cuja colheita coincide em parte com a do Brasil."
Oscilação - Os preços do trigo tiveram um pico de alta em fevereiro de 2008, como reflexo da queda da produção global na safra 2007/08, o que estimulou o maior plantio no país. Mas esses produtores colheram o cereal na baixa, no segundo semestre de 2008, por conta da recuperação da produção no ciclo 2008/09, o que agora inverte a tendência para a próxima safra. Embora os preços sinalizem recuperação no mercado internacional, os produtores estão mais inclinados a plantar milho safrinha, sobretudo no Paraná. Nesta terça-feira (20/01), os preços futuros do trigo fecharam a US$ 5,9075 o bushel, na bolsa de Kansas, com recuo de 29,25 centavos. Em 12 meses, a commodity acumula queda de 41,8% e, em 24 meses, alta de 18,4%. Assim, se confirmada a tendência de recuo do plantio do trigo, prevalecerá a gangorra da oferta no mercado interno. O Brasil produzirá menos, importará mais, enquanto o consumo do país permanece estagnado em 10 milhões de toneladas. (Valor Econômico)